o que a menina construía para brincar. Levada pela raiva, a dona de casa
pediu para a filha parar com a brincadeira, mas mamãe não obedeceu. De
imediato, ela pegou a criança pelos braços e começou a bater, mas bateu
muito a ponto de pressionar a cabeça da criança no coqueiro e pisar no
pescoço da mesma para sufocá-la. Todavia, um anjo, ou talvez o próprio
Deus, fez com que uma das irmãs de Maria do Amparo aparecesse para
intervir. Sem pensar duas vezes a tia de minha mãe começou a brigar feito
homem, para defende-la. Como João trabalhava muito, ele só ficava saben-
do desses acontecimentos ao chegar em casa e deparar-se com a filha toda
machucada.
Todo esse sofrimento nunca foi motivos para meu avô deixar de
lado a sua família. Ele sempre foi um homem exemplar e em todo tempo
respeitou a sua esposa, mesmo ela tendo o abandonado seis vezes para
curtir a vida. Em todas essas idas havia homens envolvidos e as traições já
passavam de boatos. Entretanto, João foi atrás da esposa em todas as tenta-
tivas de abandono, ele fazia isso pelas filhas, pois não queria que as meninas
crescessem órfãs de mãe. Em uma das várias fugas de Maria do Amparo,
meu avô foi buscá-la em um bairro chamado Cinzeiro, conhecido por ser
palco de prostituição e drogas.
O ABANDONO
Maria do Amparo sempre voltava para casa, mas ela já estava satu-
rada daquela tradicional vida, e não demorou para tramar outra fuga. Era
meado dos anos 80 – a filha mais nova do casal, Fernanda, já tinha 1 ano,
Luzia 3 anos e mamãe tinha 5 anos – quando Maria do Amparo aproveitou
que João estava trabalhando para fazer as malas, arrumar as meninas e par-
tir para a casa da mãe. Chegando lá, ela deixou as filhas mais novas e saiu
para pescar com Maria.
De acordo com mamãe, era um dia bonito e elas foram até um rio
de águas bem claras, sentaram-se em um banco de madeira, ali Maria do
Amparo começou a se despedir e justificar o porquê estava indo embora.
Mamãe lembra bem das palavras ditas olho no olho, foram as seguintes:
“Eu preciso ir embora porque não estou feliz com a vida que tenho nesse momento. Na vida
precisamos fazer escolhas, e, infelizmente, essa é a minha.”
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