À beira do precipício pd51 | Page 64

moderno? A agroecologia poderá ignorar o que está acontecendo com um “comportamento de avestruz”? Que dizer de uma suposta área de conhecimento que abstrai problemas como abastecimento da população e obtenção de saldos de alimento e xportáveis? Que define entre seus objetivos interferir na correlação de forças de uma luta de classes imaginária entre o Leviatã mal-intencionado, que seria o agronegócio, e um “campesinato”, que só adquire expressão numérica e social em hipóteses jamais testadas? Que defende uma paridade em parcerias de pesquisa entre homens de ciência e habitantes do meio rural, demonstrando incapacidade de perceber os limites e a importância do senso comum para a pesquisa científica? Que se recusa a proceder a qualquer avalia- ção econômica de seus sistemas à luz do mercado e considerando os custos de oportunidade? Que refuta a ideia de apresentar crité- rios de validação de suas “pesquisas”, descrevendo o método e os limites de aproximação que permitam julgar o significado? “Estas condutas retiram da agroecologia qualquer valor universal e toda a possibilidade de se apresentar claramente como ciência, pelo menos pelos critérios globalmente aceitos do que seja ciência”. Não obstante a agroecologia pretender se definir como um enfoque científico destinado a apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencionais para estilos de desenvolvimento rural e de agriculturas sustentá- veis, que se proponha a proceder reflexões teóricas para confor- mar um corpus teórico e metodológico a subsidiar essa propalada transição. Entretanto, até que estabeleça etapas ou níveis de transição que poderiam parecer lógicos e sensatos, na prática a agroecologia é uma práxis confusa, uma vez que dá um peso desproporcional à atuação dos agentes sociais e econômicos nessa imaginada transição, visto que os mesmos deveriam internalizar crenças inabaláveis nas possibilidades da agroecologia, sem questionar os princípios da mesma. Inobstante as boas intenções em relação à biodiversidade, ao aquecimento global etc., a agroe- cologia está mais próxima de uma seita que de uma ciência. Neste sentido, em relação a ela, vendo-a como uma seita reli- giosa, pode-se ser tolerante visto que jardins e hortas, como siste- mas mais fechados, autossuficientes, tipo o “sistema mandala”, devem ser aceitos como experiências estéticas, mas de impacto econômico extremamente limitado, e vistos como utopia, da mesma forma que Francis Bacon descreveu e desenhou na Nova Atlântida, provável fonte de inspiração da agroecologia. Contudo, 62 Amilcar Baiardi