À beira do precipício pd51 | Page 63

Outro desafio que se coloca, para que o setor agrícola adote conceitos e ferramentas da AI e da Indústria 4.0, é a qualificação da mão de obra. A mudança do trabalho no campo, caminhando cada vez mais para a automação das atividades rurais, além de necessária, inexorável e urgente, é também um desafio, dado que, contemporaneamente, existe um hiato entre a demanda de opera- dores qualificados e a oferta dos mesmos. À medida que a substi- tuição do trabalho braçal avançar, haverá maior exigência por pessoas capacitadas para interpretar os dados coletados no campo, com conhecimento, discernimento e habilidades para a tomada de decisão, com rapidez e segurança. Hoje, por exemplo, a demanda por mão de obra capaz de manusear tratores inteligen- tes, sensores e internet, é crescente. A implantação do novo paradigma da agricultura digital enfrenta outra dificuldade, que é o ritmo mais lento da adoção de novas tecnologias no campo, malgrado o setor denominado de agronegócio manifeste propensão a assumir riscos e a adotar novas tecnologias. Uma forma de acelerar o ritmo da adoção de novas tecnologias no campo é praticar o efeito demonstração. Isto porque o produtor rural acompanha o sucesso dos demais agri- cultores que estão no seu entorno. Dada a importância do Brasil no cenário agrícola internacio- nal e dado o papel que as agências internacionais atribuem ao país em termos de produção de alimentos, é fundamental conce- ber iniciativas que visem a acelerar a interação entre centros de pesquisa e universidades, apoiar e apostar em startups, em novos perfis de investidores e em diferentes opções de financia- mento e de valorização do capital da agricultura. O fortaleci- mento de ecossistemas de inovação voltados ao novo agro é, por sua vez, o caminho mais curto para alcançar a revolução advinda da “Agricultura 4.0”, que seria o estado da arte do agro após a absorção da Indústria 4.0. Destarte, os países que dominarem tecnologias da Indústria 4.0 sairão na frente, pois terão menos custos para produzir soluções, comparativamente aos países retardatários e menos tecnológicos. Face a estas tendências que se tornam cada vez mais palpá- veis para o moderno agro brasileiro, cabe a pergunta: qual o papel da agroecologia no futuro da agricultura nacional? Poderá este suposto paradigma ser uma solução para que a agricultura de pequeno porte, que supostamente responde por 70% da produção de alimentos no Brasil, venha se constituir alternativa ao agro O campo brasileiro: mitos, conquistas e desafios 61