Outro desafio que se coloca, para que o setor agrícola adote
conceitos e ferramentas da AI e da Indústria 4.0, é a qualificação
da mão de obra. A mudança do trabalho no campo, caminhando
cada vez mais para a automação das atividades rurais, além de
necessária, inexorável e urgente, é também um desafio, dado que,
contemporaneamente, existe um hiato entre a demanda de opera-
dores qualificados e a oferta dos mesmos. À medida que a substi-
tuição do trabalho braçal avançar, haverá maior exigência por
pessoas capacitadas para interpretar os dados coletados no
campo, com conhecimento, discernimento e habilidades para a
tomada de decisão, com rapidez e segurança. Hoje, por exemplo, a
demanda por mão de obra capaz de manusear tratores inteligen-
tes, sensores e internet, é crescente.
A implantação do novo paradigma da agricultura digital
enfrenta outra dificuldade, que é o ritmo mais lento da adoção de
novas tecnologias no campo, malgrado o setor denominado de
agronegócio manifeste propensão a assumir riscos e a adotar
novas tecnologias. Uma forma de acelerar o ritmo da adoção de
novas tecnologias no campo é praticar o efeito demonstração. Isto
porque o produtor rural acompanha o sucesso dos demais agri-
cultores que estão no seu entorno.
Dada a importância do Brasil no cenário agrícola internacio-
nal e dado o papel que as agências internacionais atribuem ao
país em termos de produção de alimentos, é fundamental conce-
ber iniciativas que visem a acelerar a interação entre centros de
pesquisa e universidades, apoiar e apostar em startups, em
novos perfis de investidores e em diferentes opções de financia-
mento e de valorização do capital da agricultura. O fortaleci-
mento de ecossistemas de inovação voltados ao novo agro é, por
sua vez, o caminho mais curto para alcançar a revolução advinda
da “Agricultura 4.0”, que seria o estado da arte do agro após a
absorção da Indústria 4.0. Destarte, os países que dominarem
tecnologias da Indústria 4.0 sairão na frente, pois terão menos
custos para produzir soluções, comparativamente aos países
retardatários e menos tecnológicos.
Face a estas tendências que se tornam cada vez mais palpá-
veis para o moderno agro brasileiro, cabe a pergunta: qual o papel
da agroecologia no futuro da agricultura nacional? Poderá este
suposto paradigma ser uma solução para que a agricultura de
pequeno porte, que supostamente responde por 70% da produção
de alimentos no Brasil, venha se constituir alternativa ao agro
O campo brasileiro: mitos, conquistas e desafios
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