À beira do precipício pd51 | Page 58

mente sobre a fronteira agrícola. O segundo mito é que a agricul- tura brasileira não preserva a natureza e o terceiro, mas não menos delirante, é que a agroecologia poderia se transformar em modelo de sistema agrícola, reforçando o papel da agricultura de pequeno porte, que, supostamente, responderia por 70% da produção de alimentos do Brasil. O sucesso da produção de alimentos e matérias-primas de origem vegetal e animal do Brasil tem sido reconhecido em todo o mundo. Este reconhecimento chega ao ponto da Food, Agriculture Organization (FAO), agência das Nações Unidas responsável por agricultura, pesca e abastecimento, concluir ser essencial a contribuição brasileira para alcançar as metas mundiais de oferta de produtos agropecuários em 2030. Este desempenho não seria possível sem transformações na organização produtiva, derivadas da adoção de novos paradigmas com base em conhecimento científico aplicado e com base na assunção de riscos por parte de empreendedores. A medida destas mudanças estruturais se torna mais visível quando se comparam os resultados preliminares do Censo Agro- pecuário de 2017, recém-divulgados pelo IBGE, com os do Censo Agropecuário de 2006, realizado pouco mais de uma década atrás. A comparação de grandes agregados revela que, em pouco mais de 10 anos, o número de estabelecimentos agropecuários passou de 5.175.636 para 5.067.656, uma variação para menos de 3%. De outro lado, a área total de estabelecimentos em hecta- res cresceu, apenas, 3%, evoluindo de 333.680.937 para 345.144.678. Outro dado agregado de pequena variação foi a área média dos estabelecimentos agropecuários em hectare, cuja mudança foi de 67, 81 para 69,15, uma alteração singela de pouco mais de 1%. Enquanto as magnitudes de número total, área total e área média dos estabelecimentos agropecuários praticamente não variam em 11 anos, a safra total de grãos, cereais, leguminosas e oleaginosas, em milhões de toneladas, passa de 131,4 para 224,3, revelando um crescimento maior que 71%, quase que dobrando. Este valor é de grande significado, visto que revela o papel das ciências agrárias nas transformações e a magnitude do cresci- mento da produção e da produtividade. Estes elementos refutam o primeiro mito que seria o de que o moderno agro brasileiro é concentrador de terra, destruidor da 56 Amilcar Baiardi