mente sobre a fronteira agrícola. O segundo mito é que a agricul-
tura brasileira não preserva a natureza e o terceiro, mas não
menos delirante, é que a agroecologia poderia se transformar em
modelo de sistema agrícola, reforçando o papel da agricultura de
pequeno porte, que, supostamente, responderia por 70% da
produção de alimentos do Brasil.
O sucesso da produção de alimentos e matérias-primas de
origem vegetal e animal do Brasil tem sido reconhecido em todo o
mundo. Este reconhecimento chega ao ponto da Food, Agriculture
Organization (FAO), agência das Nações Unidas responsável por
agricultura, pesca e abastecimento, concluir ser essencial a
contribuição brasileira para alcançar as metas mundiais de oferta
de produtos agropecuários em 2030.
Este desempenho não seria possível sem transformações na
organização produtiva, derivadas da adoção de novos paradigmas
com base em conhecimento científico aplicado e com base na
assunção de riscos por parte de empreendedores.
A medida destas mudanças estruturais se torna mais visível
quando se comparam os resultados preliminares do Censo Agro-
pecuário de 2017, recém-divulgados pelo IBGE, com os do Censo
Agropecuário de 2006, realizado pouco mais de uma década
atrás. A comparação de grandes agregados revela que, em pouco
mais de 10 anos, o número de estabelecimentos agropecuários
passou de 5.175.636 para 5.067.656, uma variação para menos
de 3%. De outro lado, a área total de estabelecimentos em hecta-
res cresceu, apenas, 3%, evoluindo de 333.680.937 para
345.144.678. Outro dado agregado de pequena variação foi a
área média dos estabelecimentos agropecuários em hectare,
cuja mudança foi de 67, 81 para 69,15, uma alteração singela de
pouco mais de 1%.
Enquanto as magnitudes de número total, área total e área
média dos estabelecimentos agropecuários praticamente não
variam em 11 anos, a safra total de grãos, cereais, leguminosas e
oleaginosas, em milhões de toneladas, passa de 131,4 para 224,3,
revelando um crescimento maior que 71%, quase que dobrando.
Este valor é de grande significado, visto que revela o papel das
ciências agrárias nas transformações e a magnitude do cresci-
mento da produção e da produtividade.
Estes elementos refutam o primeiro mito que seria o de que o
moderno agro brasileiro é concentrador de terra, destruidor da
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Amilcar Baiardi