À beira do precipício pd51 | Page 50

problemas que considera prementes. Exemplifico: o Brasil rein- veste anualmente 16% de seu PIB; a China reinveste 40%, cresce a taxas persistentemente superiores à média mundial e, mesmo assim, ainda abriga um oceano de pobreza. O candidato Jair Bolsonaro dá a entender que resolverá o problema da violência facilitando o acesso do cidadão comum a armas de fogo. Uma resposta pífia, já se vê, para o crítico problema que adotou como carro-chefe de sua propaganda. Mas, antes disso, aí pelo menos há uma variação. Curioso seria se sua solução consistisse tão somente em mandar o Exército, providência que o presidente Michel Temer pôs em prática no Rio de Janeiro desde o início deste ano, com resultados reconhecidamente modestos. Também aqui não descabe especular que o candidato Bolso- naro não consegue enxergar além dos estritos limites do pensa- mento mágico. Parece crer que os criminosos são uma parcela fixa da sociedade, bastando, pois, aniquilá-la para que o crime como tal desapareça. É exatamente assim, aliás, que uma propor- ção elevada dos seguidores do deputado Bolsonaro vê a influência do pensamento de esquerda no Brasil. Sim, claro, há um esquerdismo amplamente difundido no país, nisso nada havendo de novidade. Nas universidades e até em parte do ensino médio, professores e estudantes curtem o embalo do “socialismo”, em geral sem saber direito do que estão falando. No clero, também: desde a Conferência Episcopal de Medellín (1968), a CNBB passou a se comportar praticamente como uma linha auxiliar do PT. Na imprensa também sempre houve comu- nistas, bastando lembrar que o sucesso das novelas da Globo se deveu inicialmente ao talento artístico de alguns deles. Mas daí a dizer que estamos na iminência de uma revolução “bolivariana” vai uma grande distância. Não acredito que Jair Bolsonaro compartilhe o tosco entendi- mento da esquerda presente no imaginário de muitos de seus adep- tos. Na hipótese de se tornar presidente, não o vejo como um projeto de herói solitário, tentando sozinho erradicar uma tradição política tão profunda e complexa. O esquerdismo tende a perder força, mas paulatinamente, pela ação dissolvente do próprio processo demo- crático e dos imperativos da modernização econômica. Sabemos todos que o petismo surgiu há três décadas e meia, antes do colapso da União Soviética, já como uma ideologia mori- bunda. O grande sucesso que logrou no Brasil se deveu em parte 48 Bolívar Lamounier