problemas que considera prementes. Exemplifico: o Brasil rein-
veste anualmente 16% de seu PIB; a China reinveste 40%, cresce
a taxas persistentemente superiores à média mundial e, mesmo
assim, ainda abriga um oceano de pobreza.
O candidato Jair Bolsonaro dá a entender que resolverá o
problema da violência facilitando o acesso do cidadão comum a
armas de fogo. Uma resposta pífia, já se vê, para o crítico problema
que adotou como carro-chefe de sua propaganda. Mas, antes disso,
aí pelo menos há uma variação. Curioso seria se sua solução
consistisse tão somente em mandar o Exército, providência que o
presidente Michel Temer pôs em prática no Rio de Janeiro desde o
início deste ano, com resultados reconhecidamente modestos.
Também aqui não descabe especular que o candidato Bolso-
naro não consegue enxergar além dos estritos limites do pensa-
mento mágico. Parece crer que os criminosos são uma parcela
fixa da sociedade, bastando, pois, aniquilá-la para que o crime
como tal desapareça. É exatamente assim, aliás, que uma propor-
ção elevada dos seguidores do deputado Bolsonaro vê a influência
do pensamento de esquerda no Brasil.
Sim, claro, há um esquerdismo amplamente difundido no
país, nisso nada havendo de novidade. Nas universidades e até em
parte do ensino médio, professores e estudantes curtem o embalo
do “socialismo”, em geral sem saber direito do que estão falando.
No clero, também: desde a Conferência Episcopal de Medellín
(1968), a CNBB passou a se comportar praticamente como uma
linha auxiliar do PT. Na imprensa também sempre houve comu-
nistas, bastando lembrar que o sucesso das novelas da Globo se
deveu inicialmente ao talento artístico de alguns deles. Mas daí a
dizer que estamos na iminência de uma revolução “bolivariana”
vai uma grande distância.
Não acredito que Jair Bolsonaro compartilhe o tosco entendi-
mento da esquerda presente no imaginário de muitos de seus adep-
tos. Na hipótese de se tornar presidente, não o vejo como um projeto
de herói solitário, tentando sozinho erradicar uma tradição política
tão profunda e complexa. O esquerdismo tende a perder força, mas
paulatinamente, pela ação dissolvente do próprio processo demo-
crático e dos imperativos da modernização econômica.
Sabemos todos que o petismo surgiu há três décadas e meia,
antes do colapso da União Soviética, já como uma ideologia mori-
bunda. O grande sucesso que logrou no Brasil se deveu em parte
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Bolívar Lamounier