como principal adversário na arena internacional a China, cuja
emergência econômica e política se assenta sobre um modelo de
capitalismo de Estado integrado à economia mundial e no regime
de partido único comunista, que parecia condenado a desapare-
cer. Entre esses dois polos, equilibra-se uma Europa assustada
pela herança de seu próprio colonialismo, a crise humanitária
na África e Oriente Médio, e pela agressividade da Rússia de
Putin, determinada a restabelecer seu papel no grande jogo da
Eurásia e manter seu acesso livre ao Mediterrâneo. Na periferia,
os mais bem-sucedidos na modernização derivam da democra-
cia para o autoritarismo.
É nesse contexto que as eleições ocorrem no Brasil, flanqueado
pela crise do abastecimento e hiperinflação do modelo bolivariano
na Venezuela de Nícolas Maduro, e a crise cambial na Argentina,
que expõe a vulnerabilidade da política liberal do presidente Maurí-
cio Macri. Ao contrário do que muitos afirmam, o Brasil enfrenta a
sua maior crise desde 1964 num ambiente de ampla liberdade, com
eleições livres e limpas, graças à Constituição de 1988, que até
agora sobreviveu a todas as tensões. Devemos lutar para preservá
-la e levar a sério a advertência do professor da Universidade de
Harvard Steven Levitsky, autor do livro Como morrem as democra-
cias?, que há anos estuda a relação entre populismo e autorita-
rismo, assim como a construção partidária na América Latina: “Se
um candidato, em sua vida, carreira política ou durante a campa-
nha, defendeu ideias antidemocráticas, devemos levá-lo a sério e
resistir à tentação de apoiá-lo, ainda que, diante de circunstâncias
momentâneas, pareça ser uma opção aceitável”.
A democracia esfaqueada
Campanhas de massas têm o condão de despertar a paixão
dos eleitores, agora numa escala inédita, por causa da tevê, do
rádio e das redes sociais. Quando a retórica dos candidatos se
radicaliza, mais cedo ou mais tarde, isso se traduz em ações
violentas, que atentam contra as regras do jogo democrático. Foi o
que aconteceu ontem em Juiz de Fora (MG) com o candidato do
PSL, Jair Bolsonaro, que foi esfaqueado na barriga durante uma
caminhada no centro da cidade.
Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos, confessou o crime, segundo
a PM. Natural de Montes Claros, no norte de Minas Gerais, foi preso
em flagrante e disse à polícia que atacou Bolsonaro “a mando de
44
Luiz Carlos Azedo