discussão não sensibilizam a grande massa do eleitorado, apenas
os agentes econômicos e setores mais esclarecidos da população.
As prioridades do eleitorado estão em outra agenda, que pode-
mos identificar num tripé. A primeira é o desemprego, que deses-
trutura as famílias, pois atingiu uma escala crônica, chegando a
13 milhões de vítimas no país.
Vem daí a segunda prioridade: o combate à corrupção. A Lava-
Jato, como já se sabia, se tornou um vetor importante da campa-
nha eleitoral, com forte influência no posicionamento dos eleitores.
Mesmo considerando a campanha feita pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva contra a operação, para caracterizá-la como
um instrumento de perseguição política, essa variável continua
fortíssima. De certa forma, o ex-presidente conseguiu romper essa
barreira em termos eleitorais, mas ela é intransponível juridica-
mente, pois Lula estará preso e terá sua candidatura impugnada.
A terceira prioridade é a violência, que está relacionada ao
desemprego, à desestruturação das famílias e à corrupção. É aí
que o deputado Jair Bolsonaro (PSL) nada de braçada, com seu
discurso a favor do endurecimento da repressão policial, em
defesa da família unicelular patriarcal e de soluções mágicas
para a crise econômica. Seu principal assessor econômico, Paulo
Guedes, se propõe zerar o deficit público em um ano, com um
programa de reforma administrativa e privatização radical dos
ativos públicos, que seriam transferidos para um fundo de
resgate da dívida pública.
A grande dificuldade que todos os demais candidatos estão
enfrentando no processo eleitoral para superar a polarização Lula
versus Bolsonaro decorre do fato de que ambos exploram, com
sinal trocado, o senso comum do eleitor. Como se sabe, o senso
comum é uma visão de mundo disseminada de forma desorde-
nada e assistemática, quase sempre alicerçada em ideias religio-
sas e nos costumes, contra a qual é muito difícil se opor. A não ser
que entre em cena o chamado “bom senso” em relação à solução
objetiva dos problemas. Por exemplo, é um senso comum culpar o
governo Temer pelas altas taxas de desemprego; em contrapar-
tida, é uma questão de bom senso limitar os gastos pessoais à
capacidade de endividamento das famílias.
Assim, a percepção de que o mesmo critério adotado para equi-
librar as finanças domésticas deve ser usado nas contas públicas
seria uma questão de bom senso, uma espécie de ovo de Colombo,
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Luiz Carlos Azedo