À beira do precipício pd51 | Page 44

discussão não sensibilizam a grande massa do eleitorado, apenas os agentes econômicos e setores mais esclarecidos da população. As prioridades do eleitorado estão em outra agenda, que pode- mos identificar num tripé. A primeira é o desemprego, que deses- trutura as famílias, pois atingiu uma escala crônica, chegando a 13 milhões de vítimas no país. Vem daí a segunda prioridade: o combate à corrupção. A Lava- Jato, como já se sabia, se tornou um vetor importante da campa- nha eleitoral, com forte influência no posicionamento dos eleitores. Mesmo considerando a campanha feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a operação, para caracterizá-la como um instrumento de perseguição política, essa variável continua fortíssima. De certa forma, o ex-presidente conseguiu romper essa barreira em termos eleitorais, mas ela é intransponível juridica- mente, pois Lula estará preso e terá sua candidatura impugnada. A terceira prioridade é a violência, que está relacionada ao desemprego, à desestruturação das famílias e à corrupção. É aí que o deputado Jair Bolsonaro (PSL) nada de braçada, com seu discurso a favor do endurecimento da repressão policial, em defesa da família unicelular patriarcal e de soluções mágicas para a crise econômica. Seu principal assessor econômico, Paulo Guedes, se propõe zerar o deficit público em um ano, com um programa de reforma administrativa e privatização radical dos ativos públicos, que seriam transferidos para um fundo de resgate da dívida pública. A grande dificuldade que todos os demais candidatos estão enfrentando no processo eleitoral para superar a polarização Lula versus Bolsonaro decorre do fato de que ambos exploram, com sinal trocado, o senso comum do eleitor. Como se sabe, o senso comum é uma visão de mundo disseminada de forma desorde- nada e assistemática, quase sempre alicerçada em ideias religio- sas e nos costumes, contra a qual é muito difícil se opor. A não ser que entre em cena o chamado “bom senso” em relação à solução objetiva dos problemas. Por exemplo, é um senso comum culpar o governo Temer pelas altas taxas de desemprego; em contrapar- tida, é uma questão de bom senso limitar os gastos pessoais à capacidade de endividamento das famílias. Assim, a percepção de que o mesmo critério adotado para equi- librar as finanças domésticas deve ser usado nas contas públicas seria uma questão de bom senso, uma espécie de ovo de Colombo, 42 Luiz Carlos Azedo