O partido ou grupo de partidos que nesta área se firmarem esta-
rão em linha com tendências globais. Não por acaso seu líder
derrama-se em elogios à figura tutelar de Trump e tenta capita-
near uma versão nativa da Christian Right, com “Deus acima de
tudo”. Será capaz de dirigir toda a sociedade com base em valores
que dificilmente seriam os de uma apregoada “sociedade aberta”?
O que diria Karl Popper, tão invocado pela face ultraliberal deste
perigoso Janus de ocasião, sobre os arreganhos regressivos no
campo dos costumes que sua outra face conseguiu audaciosa-
mente trazer das margens para o centro, com graves repercussões
em políticas públicas, como segurança e saúde reprodutiva?
Partidos tradicionais, como PP, DEM e em certa medida MDB,
vivem uma versão peculiar do dilema dos velhos partidos operá-
rios, quando se dizia que as ideias deviam vir “de fora” do apare-
lho partidário. Veem-se assediados por vozes e movimentos que
postulam um liberalismo distante das esferas do Estado, nas
quais aqueles partidos se movimentaram até hoje com maestria
e conhecimento de causa. A capilaridade que detêm parece
condenar ao insucesso as novas vozes, mas, sem estas, organis-
mos tradicionais caducam e morrem, antes de construir suas
pontes para o futuro.
Este “centro ampliado”, de resto, é vital para barrar a preten-
são hegemônica da ultradireita, mas não basta. A revitalização do
PSDB será requisito para dar gravitação a uma frente democrá-
tica de novo tipo, com soluções positivas para as urgências econô-
micas e sociais do país. Nascido de notável, mas envelhecida,
constelação de intelectuais e com a vocação de representar as
camadas médias modernas, um bom desempenho tucano nas
urnas recolocaria um dos múltiplos dilemas deste partido, a
saber, estar no governo e não desaparecer da sociedade. E desta
vez sem espaço para o erro, cuja reiteração, de resto, seria paga
com a transformação da política em cenário de batalha campal
entre extremismos demagógicos em confronto com o que chamam
pejorativamente de establishment – como lhes manda dizer o
léxico vulgar dos populismos contemporâneos.
Tal como da extrema direita, pouco se pode esperar da
esquerda dominante, pelo menos por ora. Até por uma questão
geracional, teria cabido aos grupos dirigentes do petismo renovar
a política e dar-lhe novo fôlego. Aqui, sim, teria sido necessária
uma transformação que liquidasse mitos revolucionaristas e
impedisse seu reaparecimento, ainda que só para fins de retórica
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Luiz Sérgio Henriques