mos, sem ter a exata noção de seu amplo poder corrosivo. Grupos
dirigentes inteiros foram chamados às barras da lei, o que desar-
ticulou alguns dos mais importantes partidos da redemocratiza-
ção e os respectivos projetos de poder. Ao mesmo tempo, o ambiente
de terra arrasada, daí nascido, é o mais propício a aventureiros de
todos os matizes, que se alimentam da antipolítica que eles
mesmos semeiam, ao se colocarem “contra tudo o que está aí”.
Esta é a hora clássica dos demagogos.
Se as instituições de fiscalização vieram para ficar, com suas
exigências de controle e transparência, o sistema político reage e
se reagrupa como pode. Tem a seu favor o fato óbvio de que não
existe democracia sem partidos e sem Parlamento digno do nome.
Velhos comunistas costumavam dizer que a mais medíocre das
“democracias operárias” era preferível à mais pujante das “demo-
cracias burguesas”. Devemos parafraseá-los em outro sentido: do
ponto de vista de uma vida civil moderna, como a que precisa
existir no Brasil, não haver democracia parlamentar, verdadeira-
mente livre e plural, é o pior dos mundos.
Como dissemos, a “classe política” reage, vale-se das regras
de financiamento exclusivamente público, aposta na maior visi-
bilidade dos detentores de mandato, de modo que se vislumbra
um nível baixo de renovação do Congresso e das assembleias
estaduais. Eppur si muove, e algo como um processo consti-
tuinte, nada espalhafatoso, mas quem sabe promissor, pode
estar ocorrendo sob nossos olhos. Este processo, distante de
qualquer subversivismo rupturista, atinge um dos pilares da
vida institucional: exatamente, o sistema de partidos, às véspe-
ras de ser – em parte – racionalizado com a cláusula de barreira
já prevista para este outubro.
Regras, quando pertinentes, costumam ser bem mais do que
meros artifícios técnicos. Já que o voto é livre e as urnas são
imprevisíveis, impossível dizer quantos e quais partidos terão
plena existência parlamentar e assim poderão condicionar, posi-
tiva ou negativamente, o futuro programa de reformas. Sabe-se
apenas que serão em número bem menor do que as atuais três
dezenas. Deixando de lado qualquer previsão aritmética, aqui
propomos um mapa provisório do sistema de forças em surgi-
mento, apontando alguns dos prováveis rumos à frente.
Já temos de nos haver com uma extrema direita competitiva
– e agressiva – pela primeira vez desde a redemocratização.
A degradação do discurso público
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