de modo latente em Ciro Gomes, embora se apresente como
herdeiro da experiência do lulismo.
Narrativas são apenas narrativas. Na vida real, fora os candi-
datos que parecem habitar em hospícios – pegando carona em
divertida crônica de Fernando Gabeira – ou viver, nas primeiras
décadas do século 20, no seu culto a experimentos falidos, os
demais, principalmente os de ofício na política, não ignoram que
tanto o movimento das coisas quanto o dos homens e das mulhe-
res apontam, de modo inexorável, para o fim da era Vargas, esti-
cada até o limite pelo seu pastiche do lulismo.
O patriarcalismo – uma das pedras de sustentação do autori-
tarismo em nossa sociedade, exemplar no São Bernardo, de Graci-
liano Ramos – está com seus dias contados e aqui e alhures o
gênio de Keynes não serve mais para guiar nossos passos na
economia de hoje, como no íntimo um acadêmico, como o candi-
dato Fernando Haddad, não pode desconhecer.
Paixões e interesses à parte, estaremos no tempo que se abre
adiante no terreno áspero e difícil das transições em que não é mais
noite e o dia ainda não chegou, cabendo à política bem compreen-
dida acelerar sua festiva aparição. Contudo não poderemos fechar
os olhos aos perigos que nos rondam, pondo em xeque a singular
cultura que aqui criamos, nós brancos, índios e negros, tudo errati-
camente misturado, sem identidade definida, porque somos, como
sustentava o gênio de Euclides da Cunha, uma construção voltada
para futuro em busca da realização de ideais civilizatórios. O Brasil
não pode ser uma cabeça de ponte na nuestra América para o
fascismo em qualquer dos disfarces com que se apresente.
Transições
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