À beira do precipício pd51 | Page 27

rar entre si, fazer alianças, negociar, assimilar a velha política, pedir ajuda ao mercado e à população. Errarão e acertarão, uns mais, outros menos. Perigos e ameaças virão mais de uns do que de outros. Mas a roda continuará a girar. A exigência de cooperação tem uma implicação positiva: faz com que todos sejam convidados a reduzir a arrogância, moderar as fantasias, aprender a respeitar os limites, arregimentar as forças que garantam algum sucesso. Impõe a articulação e a mediação. Os candidatos não deveriam se comportar prometendo mundos e fundos, criando falsas expectativas e esperanças vãs, falando mais para ferir os adversários do que para esclarecer a popula- ção. Sua função é apresentar planos, metas, ideias, revelar o fundo do poço e os meios para dele sair, não varrer para baixo do tapete a sujeira acumulada, fingindo que nada têm a ver com ela. Não podem culpar oligarquias ou “golpistas” por responsabilida- des que precisam ser contabilizadas coletivamente. Repetir slogans e chavões, incorporar o espírito de terceiros para iludir o povo, jurar ataques frontais aos bancos, à proprie- dade privada e à política tradicional podem impressionar os incautos, mas não ajudam a que o país encontre uma rota. Os que assim agem são políticos antipolíticos. Recusam a polí- tica realmente existente como se ela fosse o único entrave e pudesse ser eliminada por decreto. Políticos que não falam de alianças e negociações, a não ser para demonizá-las ou justificá -las envergonhadamente. Que não se dedicam a falar do “como”, das concessões inevitáveis, dos sacrifícios que precisarão pedir ao povo. Derramam-se em elogios ao “novo” sem se darem ao trabalho de qualificá-lo. Suas propostas são genéricas, não descem a detalhes essenciais, não convencem. São fogos de arti- fício, lançados para desviar a atenção, disfarçar um buraco que não se deseja enxergar. Mas as circunstâncias estão a clamar por algo mais, roteiros melhores, propostas claras e detalhadas. Não para que se conquis- tem votos, mas para que se ajude a sociedade a se autocompreen- der, a se mobilizar, a se preparar para sacrifícios e dificuldades. Está certo, é somente uma eleição a mais, o mundo não acabará no dia seguinte, o país tem reservas para queimar. Mas, e para além das generalidades sobre o gigante adormecido? Quem irá desarmar a bomba da polarização? Tempo de choques, atritos e facadas 25