rar entre si, fazer alianças, negociar, assimilar a velha política,
pedir ajuda ao mercado e à população. Errarão e acertarão, uns
mais, outros menos. Perigos e ameaças virão mais de uns do que
de outros. Mas a roda continuará a girar.
A exigência de cooperação tem uma implicação positiva: faz
com que todos sejam convidados a reduzir a arrogância, moderar
as fantasias, aprender a respeitar os limites, arregimentar as forças
que garantam algum sucesso. Impõe a articulação e a mediação.
Os candidatos não deveriam se comportar prometendo mundos
e fundos, criando falsas expectativas e esperanças vãs, falando
mais para ferir os adversários do que para esclarecer a popula-
ção. Sua função é apresentar planos, metas, ideias, revelar o
fundo do poço e os meios para dele sair, não varrer para baixo do
tapete a sujeira acumulada, fingindo que nada têm a ver com ela.
Não podem culpar oligarquias ou “golpistas” por responsabilida-
des que precisam ser contabilizadas coletivamente.
Repetir slogans e chavões, incorporar o espírito de terceiros
para iludir o povo, jurar ataques frontais aos bancos, à proprie-
dade privada e à política tradicional podem impressionar os
incautos, mas não ajudam a que o país encontre uma rota.
Os que assim agem são políticos antipolíticos. Recusam a polí-
tica realmente existente como se ela fosse o único entrave e
pudesse ser eliminada por decreto. Políticos que não falam de
alianças e negociações, a não ser para demonizá-las ou justificá
-las envergonhadamente. Que não se dedicam a falar do “como”,
das concessões inevitáveis, dos sacrifícios que precisarão pedir
ao povo. Derramam-se em elogios ao “novo” sem se darem ao
trabalho de qualificá-lo. Suas propostas são genéricas, não
descem a detalhes essenciais, não convencem. São fogos de arti-
fício, lançados para desviar a atenção, disfarçar um buraco que
não se deseja enxergar.
Mas as circunstâncias estão a clamar por algo mais, roteiros
melhores, propostas claras e detalhadas. Não para que se conquis-
tem votos, mas para que se ajude a sociedade a se autocompreen-
der, a se mobilizar, a se preparar para sacrifícios e dificuldades.
Está certo, é somente uma eleição a mais, o mundo não acabará
no dia seguinte, o país tem reservas para queimar. Mas, e para
além das generalidades sobre o gigante adormecido? Quem irá
desarmar a bomba da polarização?
Tempo de choques, atritos e facadas
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