À beira do precipício pd51 | Page 25

“núcleos vivos da sociedade”, não estruturas burocráticas hierárquicas. Sua ênfase na educação é categórica, e tem sido acompanhada de um esforço grande para detalhar como a reforma do ensino poderá ser executada. Defende a reforma da previdência, mas pensa que ela precisa ser cuidadosamente debatida. Também apoia a reforma tributária, a descentraliza- ção fiscal, a justiça tributária, a simplificação dos tributos, a responsabilidade fiscal. É contra a reeleição porque acha que ela reforça as oligarquias e o fisiologismo. Pode ser que muitos desses compromissos não saiam do papel ou das entrevistas. Mas o mero fato de terem sido apresen- tados já deveria servir para diferenciar Marina e projetá-la como uma personagem sintonizada com os temas do século XXI e disposta a brigar democraticamente com as forças tradicionais do sistema político e com uma cultura política que insiste em permanecer no século XX. Já com o candidato do PSDB a avaliação passa por outros elementos. A imponente coligação de Alckmin parece insuficiente para impulsioná-lo. Foi pensada em chave hiperrealista, com o objetivo de dar ao candidato tucano alguns recursos de campanha de que ele não dispunha, como tempo de televisão e palanques regionais. É difícil que venha a funcionar sem que outros ingredientes sejam incorporados, a começar de um acréscimo de “carisma” no próprio candidato e do engajamento efetivo dos partidos coligados. O caráter “fisiológico” da coligação será explorado pelos adversá- rios e tenderá a trazer desgaste para uma candidatura que já enfrenta muitas dificuldades, não agrega paixões e tem uma imagem pública chamuscada. Alckmin teria governabilidade, ao menos em tese. Sua aliança é uma promessa nessa direção. Caso vença, terá de mostrar que tem como administrar e dirigir o “Centrão”, que cobrará um preço alto. O problema é que Alckmin caminha com uma bola de chumbo nas pernas. Seus trunfos – a experiência administrativa em São Paulo, a coligação oceânica, a linguagem técnica, a comunicação – estão lhe pesando nos ombros como uma maldição. É visto como político tradicional demais, político demais, conservador demais. Seu partido, em crise, não lhe fornece maiores suportes. Poucos o veem como um reformista confiável. São vetos em excesso, e pode ser que venham a impedir que consiga deslanchar. Tempo de choques, atritos e facadas 23