“núcleos vivos da sociedade”, não estruturas burocráticas
hierárquicas. Sua ênfase na educação é categórica, e tem sido
acompanhada de um esforço grande para detalhar como a
reforma do ensino poderá ser executada. Defende a reforma da
previdência, mas pensa que ela precisa ser cuidadosamente
debatida. Também apoia a reforma tributária, a descentraliza-
ção fiscal, a justiça tributária, a simplificação dos tributos, a
responsabilidade fiscal. É contra a reeleição porque acha que ela
reforça as oligarquias e o fisiologismo.
Pode ser que muitos desses compromissos não saiam do
papel ou das entrevistas. Mas o mero fato de terem sido apresen-
tados já deveria servir para diferenciar Marina e projetá-la como
uma personagem sintonizada com os temas do século XXI e
disposta a brigar democraticamente com as forças tradicionais
do sistema político e com uma cultura política que insiste em
permanecer no século XX.
Já com o candidato do PSDB a avaliação passa por outros
elementos.
A imponente coligação de Alckmin parece insuficiente para
impulsioná-lo. Foi pensada em chave hiperrealista, com o objetivo
de dar ao candidato tucano alguns recursos de campanha de que
ele não dispunha, como tempo de televisão e palanques regionais.
É difícil que venha a funcionar sem que outros ingredientes sejam
incorporados, a começar de um acréscimo de “carisma” no próprio
candidato e do engajamento efetivo dos partidos coligados.
O caráter “fisiológico” da coligação será explorado pelos adversá-
rios e tenderá a trazer desgaste para uma candidatura que já
enfrenta muitas dificuldades, não agrega paixões e tem uma
imagem pública chamuscada.
Alckmin teria governabilidade, ao menos em tese. Sua aliança
é uma promessa nessa direção. Caso vença, terá de mostrar que
tem como administrar e dirigir o “Centrão”, que cobrará um preço
alto. O problema é que Alckmin caminha com uma bola de chumbo
nas pernas. Seus trunfos – a experiência administrativa em São
Paulo, a coligação oceânica, a linguagem técnica, a comunicação
– estão lhe pesando nos ombros como uma maldição. É visto como
político tradicional demais, político demais, conservador demais.
Seu partido, em crise, não lhe fornece maiores suportes. Poucos o
veem como um reformista confiável. São vetos em excesso, e pode
ser que venham a impedir que consiga deslanchar.
Tempo de choques, atritos e facadas
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