À beira do precipício pd51 | Page 23

daturas próprias e de aliados, bloqueando composições com outros candidatos, tudo em nome de um protagonismo feito para salvar Lula e, se necessário, roubar legitimidade das eleições. A estratégia contém, ainda, alta dose de cinismo. O PT casou com o PMDB já no segundo governo Lula, em regime de comu- nhão de bens. O casamento foi muito bem até o impeachment de Dilma, quando parte expressiva dos peemedebistas mudou de rota. O PT atacou com fúria os “golpistas” e demonizou o governo Temer, seu sócio majoritário até então e uma de suas criaturas mais autênticas. Num segundo momento, porém, a denúncia do golpe se tornou seletiva: alguns dos golpistas foram perdoados e passaram a ser abraçados pelos candidatos regionais do PT. Compôs-se assim um novo tipo de “Centrão”, com alianças feitas com partidos que eram há pouco demonizados, como o PMDB, o PR, o PP, o PTB, o PSD, o DEM e o SD. Em vários estados, o PT sacrificou seu próprio povo (como fez com Marilia Arraes, em Pernambuco) e alguns aliados, como Vanessa Graziotin (PCdoB), no Amazonas, e Márcio Lacerda (PSB), em Minas. Tudo pelo bom e velho voto, em nome do realismo. Marina e Alckmin Marina sofre com os estigmas que a afetam desde 2014, quando foi alvejada pela campanha de desconstrução empreen- dida pela equipe de propaganda de Dilma Rousseff. São estigmas que não correspondem à trajetória de Marina, mas que são repe- tidos à exaustão por seus adversários. Nenhum deles, porém, toca no fundamental, naquilo que pode de fato comprometer a trajetó- ria presidencial de Marina: a fraqueza de seu partido, a Rede, fato que certamente implicará uma drástica redução das possibilida- des que a candidata tem de fazer uma campanha nacional forte e, caso vença, compor uma maioria parlamentar. Especialmente porque na disputa presidencial de 2018 não houve por parte da Rede maior preocupação com a questão das alianças. A campanha de Marina não tem dinheiro nem grandes apoios organizacionais, a Rede não tem musculatura nem lideranças disseminadas com capacidade de mobilização dos eleitores. Sem alianças amplas e contando somente com dois deputados no Congresso, Marina terá poucos segundos diários no rádio e na tele- visão. São desafios complicados, e não há como saber se Marina conseguirá vencê-los ou se poderá ganhar as eleições trabalhando Tempo de choques, atritos e facadas 21