daturas próprias e de aliados, bloqueando composições com outros
candidatos, tudo em nome de um protagonismo feito para salvar
Lula e, se necessário, roubar legitimidade das eleições.
A estratégia contém, ainda, alta dose de cinismo. O PT casou
com o PMDB já no segundo governo Lula, em regime de comu-
nhão de bens. O casamento foi muito bem até o impeachment de
Dilma, quando parte expressiva dos peemedebistas mudou de
rota. O PT atacou com fúria os “golpistas” e demonizou o governo
Temer, seu sócio majoritário até então e uma de suas criaturas
mais autênticas. Num segundo momento, porém, a denúncia do
golpe se tornou seletiva: alguns dos golpistas foram perdoados e
passaram a ser abraçados pelos candidatos regionais do PT.
Compôs-se assim um novo tipo de “Centrão”, com alianças feitas
com partidos que eram há pouco demonizados, como o PMDB, o
PR, o PP, o PTB, o PSD, o DEM e o SD. Em vários estados, o PT
sacrificou seu próprio povo (como fez com Marilia Arraes, em
Pernambuco) e alguns aliados, como Vanessa Graziotin (PCdoB),
no Amazonas, e Márcio Lacerda (PSB), em Minas. Tudo pelo bom
e velho voto, em nome do realismo.
Marina e Alckmin
Marina sofre com os estigmas que a afetam desde 2014,
quando foi alvejada pela campanha de desconstrução empreen-
dida pela equipe de propaganda de Dilma Rousseff. São estigmas
que não correspondem à trajetória de Marina, mas que são repe-
tidos à exaustão por seus adversários. Nenhum deles, porém, toca
no fundamental, naquilo que pode de fato comprometer a trajetó-
ria presidencial de Marina: a fraqueza de seu partido, a Rede, fato
que certamente implicará uma drástica redução das possibilida-
des que a candidata tem de fazer uma campanha nacional forte e,
caso vença, compor uma maioria parlamentar. Especialmente
porque na disputa presidencial de 2018 não houve por parte da
Rede maior preocupação com a questão das alianças.
A campanha de Marina não tem dinheiro nem grandes apoios
organizacionais, a Rede não tem musculatura nem lideranças
disseminadas com capacidade de mobilização dos eleitores. Sem
alianças amplas e contando somente com dois deputados no
Congresso, Marina terá poucos segundos diários no rádio e na tele-
visão. São desafios complicados, e não há como saber se Marina
conseguirá vencê-los ou se poderá ganhar as eleições trabalhando
Tempo de choques, atritos e facadas
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