aumento dos gastos públicos, o desajuste fiscal. Os governos
petistas de Lula e Dilma não foram somente de solidariedade
social: apostaram tudo em um padrão de crescimento econômico
movido pela expansão de um mercado voltado para o consumo
popular e alguns “campeões nacionais”.
Mas Ciro e Haddad não são “autocráticos” ou “populistas”, e a
crítica a eles precisa ser feita de outro modo. Não terão como repi-
sar a rota seguida por Dilma ou recriar automaticamente os
esquemas petistas de reprodução política. As circunstâncias são
outras. Caso venham a ser eleitos, farão governos com uma retó-
rica inflamada e agressiva, mas com políticas suportáveis, quem
sabe até mesmo conservadoras. E certamente governarão melhor
do que Dilma. Ciro é um estatista à moda antiga e um centraliza-
dor, mas não é antidemocrático, e Haddad é um intelectual aberto
ao diálogo e à reflexão.
Os limites de Haddad são de outro tipo. Ao aceitar passiva-
mente ser a voz de Lula – “jurando” lealdade incondicional ao
chefe –, ele perdeu espaço como representante de uma esquerda
mais moderna e arejada, dobrou-se ao aparato partidário e à narra-
tiva tosca do golpe. Passou a ser um “soldado” do projeto petista de
ser a única voz a falar pela esquerda e “regular” a democracia.
Pôs-se abertamente no olho do furacão, confrontando a institucio-
nalidade democrática e reforçando a polarização política e social.
Se conseguir capturar o apoio dos lulistas e vencer as eleições, será
um presidente fragilizado, com pouca autonomia decisória e muitas
dificuldades para criar um ambiente produtivo de governo.
O PT está na dependência da bancada parlamentar que conse-
guir eleger. Contagiado pela ideia de manter viva denúncia de
Lula como vítima de um golpe, e dando ao ex-presidente o trata-
mento de um santo infalível, tornou-se um personagem completa-
mente estranho à meta de construir um “projeto de sociedade”.
O partido não consegue ir além da mimetização obstinada de
Lula, com direito a máscaras mistificadoras, confiando que isso
dará o gás que lhe falta. É uma estratégia de salvação pessoal do
chefe, egoísta, fechada em si mesma. Não leva em conta nem os
erros cometidos, nem as instituições, nem muito menos o esforço
que áreas do próprio PT vêm fazendo para escapar da crise que
afetou o partido. Nessa toada, para cumprir o roteiro anteriormente
traçado e tentar manter o controle sobre as esquerdas que orbitam
o partido, Lula e a direção nacional petista foram dizimando candi-
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Marco Aurélio Nogueira