À beira do precipício pd51 | Page 22

aumento dos gastos públicos, o desajuste fiscal. Os governos petistas de Lula e Dilma não foram somente de solidariedade social: apostaram tudo em um padrão de crescimento econômico movido pela expansão de um mercado voltado para o consumo popular e alguns “campeões nacionais”. Mas Ciro e Haddad não são “autocráticos” ou “populistas”, e a crítica a eles precisa ser feita de outro modo. Não terão como repi- sar a rota seguida por Dilma ou recriar automaticamente os esquemas petistas de reprodução política. As circunstâncias são outras. Caso venham a ser eleitos, farão governos com uma retó- rica inflamada e agressiva, mas com políticas suportáveis, quem sabe até mesmo conservadoras. E certamente governarão melhor do que Dilma. Ciro é um estatista à moda antiga e um centraliza- dor, mas não é antidemocrático, e Haddad é um intelectual aberto ao diálogo e à reflexão. Os limites de Haddad são de outro tipo. Ao aceitar passiva- mente ser a voz de Lula – “jurando” lealdade incondicional ao chefe –, ele perdeu espaço como representante de uma esquerda mais moderna e arejada, dobrou-se ao aparato partidário e à narra- tiva tosca do golpe. Passou a ser um “soldado” do projeto petista de ser a única voz a falar pela esquerda e “regular” a democracia. Pôs-se abertamente no olho do furacão, confrontando a institucio- nalidade democrática e reforçando a polarização política e social. Se conseguir capturar o apoio dos lulistas e vencer as eleições, será um presidente fragilizado, com pouca autonomia decisória e muitas dificuldades para criar um ambiente produtivo de governo. O PT está na dependência da bancada parlamentar que conse- guir eleger. Contagiado pela ideia de manter viva denúncia de Lula como vítima de um golpe, e dando ao ex-presidente o trata- mento de um santo infalível, tornou-se um personagem completa- mente estranho à meta de construir um “projeto de sociedade”. O partido não consegue ir além da mimetização obstinada de Lula, com direito a máscaras mistificadoras, confiando que isso dará o gás que lhe falta. É uma estratégia de salvação pessoal do chefe, egoísta, fechada em si mesma. Não leva em conta nem os erros cometidos, nem as instituições, nem muito menos o esforço que áreas do próprio PT vêm fazendo para escapar da crise que afetou o partido. Nessa toada, para cumprir o roteiro anteriormente traçado e tentar manter o controle sobre as esquerdas que orbitam o partido, Lula e a direção nacional petista foram dizimando candi- 20 Marco Aurélio Nogueira