É uma candidatura que explora, sem pruridos, o desencanto
político, a ignorância e a indignação dos brasileiros. Ao atribuir
tudo o que há de ruim aos governos social-democráticos, de FHC
a Lula e Dilma, fortalece a ideia de que a esquerda é a grande vilã
da história, o que é uma falsificação grosseira. O autoritarismo
regressista que o candidato anuncia no plano comportamental, o
modo como ele se expressa, o ódio social que distila em seus
pronunciamentos prenuncia um país que não corresponde ao que
os brasileiros anseiam. Mas ele segue em frente, indiferente a
todas as tentativas de desconstrução.
Fora da extrema-direita, tem-se um centro despedaçado e
uma esquerda desorientada. O que poderia ter sido uma oportu-
nidade para a fixação de uma vertente progressista, reformista e
democrática no país foi-se diluindo com o passar dos dias. Poucos
candidatos dispõem de estruturas políticas fortes: a rigor, somente
Alckmin e Haddad. Os mais frágeis mostram vigor e resiliência,
como é o caso de Marina e Ciro, fato que provoca dúvidas sobre a
governabilidade que terão caso venham a ser eleitos.
Ciro e Haddad
Ciro foi sacrificado pelo PT, que bloqueou seu acesso ao terri-
tório da esquerda hegemonizada pelo petismo. Tem buscado assi-
milar o golpe e ampliar a moderação verbal, mas passou a circu-
lar com menos desenvoltura. Foi forçado a abrir disputa com o PT,
e lutará com Haddad para ver quem falará, mais à frente, pela
esquerda até hoje dominada pelo petismo e, mais ainda, pelo
lulismo. Nã