Dizia ainda que o real independe da existência, podendo até
precedê-la. “Tomás de Aquino já associava a potência e o ato, ou
distinguia o ser da existência (coisa que o vosso amigo Sartre
explorou às pampas) pois que a essência precede a existência
(Heidegger, Husserl etc.)”, afirmava aos entrevistadores.
Para Fusco, vivia-se (e vivemos ainda!) um tempo semântico.
“A mesma coisa e a mesmice se impondo com outros nomes.
Inventa-se uma palavra (inventa-se ou valoriza-se) e logo vem
uma teoria para lhe dar curso”, dizia (p.91-92).
Trajetória
Rosário Fusco de Souza Guerra (1910-1977), cujo esquecimento
só pode ser atribuído à indigência mental que tem marcado a atua-
ção da intelectualidade nacional nos últimos tempos, nasceu em
São Geraldo-MG, filho de um comerciante italiano e de uma lava-
deira, ficou órfão de pai logo em seus primeiros meses de vida e
mudou-se com a família para Cataguases. Em 1925, com 15 anos
de idade, iniciou intensa correspondência com o grupo modernista
de São Paulo e começou, bastante cedo, a publicar seus poemas no
jornal Mercúrio, da Associação Comercial de Cataguases.
Ainda aluno do ginásio de Cataguases, frequentou as sessões
do Grêmio Literário Machado de Assis e participou da fundação
do grupo Verde, responsável pelo lançamento da revista Verde,
importante publicação modernista editada entre 1927 e 1929.
Essa revista contou com a colaboração de poetas, escritores e
ilustradores modernistas do Brasil e de outros países.
Em 1932, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde concluiu, em
1937, o curso de Direito na Universidade do Brasil, atual Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e realizou intensa ativi-
dade na imprensa como crítico e jornalista. Nessa época, traba-
lhou também como publicitário, cronista de rádio, redator-chefe
da revista A Cigarra; crítico literário do Diário de Notícias, do Rio
de Janeiro; secretário da Universidade do Distrito Federal e procu-
rador do Estado de Guanabara, cargo em que se aposentou.
Depois de trabalhar, na década de 1940, como adido da Embai-
xada do Brasil em Santiago do Chile, candidatou-se a deputado
federal pelo Estado do Rio de Janeiro, na década de 1950, mas não
conseguiu se eleger, apesar do slogan criativo que exibia: “Não
fique confuso, fique com Fusco”. Sua justificativa: “Os imbecis não
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Adelto Gonçalves