À beira do precipício pd51 | Page 20

será possível limpar a sujeira acumulada, fazer um novo pacto e lutar para que o carro volte a pegar. A extrema-direita sai à luz do dia Basta passar os olhos pelo plantel eleitoral, pelos debates e entrevistas dos candidatos para constatar: estamos na entressa- fra. Faltam candidatos que reúnam, em doses equilibradas, capa- cidade de liderança, de gestão e de reflexão. A articulação política também deixa a desejar, com poucas interações e muitas compo- sições oportunistas, sem conteúdo programático. Polarizações inúteis e oportunistas desabam sobre todos. O cenário de incer- teza e de dúvida quanto ao futuro é inevitável. Alguns candidatos, como Bolsonaro e Daciolo, carentes de densidade técnica e cultural mínima, flertam abertamente com o autoritarismo e a selvageria social, apelam indevidamente a Deus ou a igrejas, exibem sem pudor seu despreparo. O principal deles tem mostrado resiliência nas pesquisas, indício de que continua sensibilizando parte importante dos segmentos sociais mais ressentidos e “vingativos”, que desprezam a política, têm pouco apreço pela democracia e acham que a solução dos problemas do país passa pelo aumento da violência estatal, algumas vezes interpretada como derivando da figura de um líder forte, que não leva desaforo para casa e “salvará” as pessoas. Não há democrata que não tema um governo Bolsonaro. Dele sairá ódio em excesso, desgoverno em excesso, agressividade em excesso. Será feito um convite explícito para que a sociedade libere seus piores demônios. Por mais que um governo desses acerte em um ou outro setor, o estrago que causará será enorme. Sua promessa de que combaterá a “permissividade” e os direitos huma- nos prenuncia uma guinada obscurantista que afetará a sociedade brasileira como a conhecemos. Frear essa possibilidade é uma exigência cívica. Bolsonaro é o melhor candidato que a extrema- direita poderia encontrar. Consegue vocalizar o mal-estar derivado de uma modernização social que não conseguiu se completar no plano político e nem formou, para si, um leque expressivo de valo- res. É o único que assume abertamente o autoritarismo e de sua eventual eleição (assim como com sua campanha) a polarização que estraçalha a sociedade ganharia um formidável impulso. E somente ele parece, hoje, garantido no segundo turno. 18 Marco Aurélio Nogueira