será possível limpar a sujeira acumulada, fazer um novo pacto e
lutar para que o carro volte a pegar.
A extrema-direita sai à luz do dia
Basta passar os olhos pelo plantel eleitoral, pelos debates e
entrevistas dos candidatos para constatar: estamos na entressa-
fra. Faltam candidatos que reúnam, em doses equilibradas, capa-
cidade de liderança, de gestão e de reflexão. A articulação política
também deixa a desejar, com poucas interações e muitas compo-
sições oportunistas, sem conteúdo programático. Polarizações
inúteis e oportunistas desabam sobre todos. O cenário de incer-
teza e de dúvida quanto ao futuro é inevitável.
Alguns candidatos, como Bolsonaro e Daciolo, carentes de
densidade técnica e cultural mínima, flertam abertamente com o
autoritarismo e a selvageria social, apelam indevidamente a Deus
ou a igrejas, exibem sem pudor seu despreparo. O principal deles
tem mostrado resiliência nas pesquisas, indício de que continua
sensibilizando parte importante dos segmentos sociais mais
ressentidos e “vingativos”, que desprezam a política, têm pouco
apreço pela democracia e acham que a solução dos problemas do
país passa pelo aumento da violência estatal, algumas vezes
interpretada como derivando da figura de um líder forte, que não
leva desaforo para casa e “salvará” as pessoas.
Não há democrata que não tema um governo Bolsonaro. Dele
sairá ódio em excesso, desgoverno em excesso, agressividade em
excesso. Será feito um convite explícito para que a sociedade libere
seus piores demônios. Por mais que um governo desses acerte em
um ou outro setor, o estrago que causará será enorme. Sua
promessa de que combaterá a “permissividade” e os direitos huma-
nos prenuncia uma guinada obscurantista que afetará a sociedade
brasileira como a conhecemos. Frear essa possibilidade é uma
exigência cívica. Bolsonaro é o melhor candidato que a extrema-
direita poderia encontrar. Consegue vocalizar o mal-estar derivado
de uma modernização social que não conseguiu se completar no
plano político e nem formou, para si, um leque expressivo de valo-
res. É o único que assume abertamente o autoritarismo e de sua
eventual eleição (assim como com sua campanha) a polarização
que estraçalha a sociedade ganharia um formidável impulso.
E somente ele parece, hoje, garantido no segundo turno.
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Marco Aurélio Nogueira