À beira do precipício pd51 | Page 198

biografias. Os acadêmicos, obviamente, pesquisam mais e reve- lam detalhes mais importantes e verídicos que estavam perdidos em arquivos, mas, com raras exceções, escrevem com uma sisu- dez que afugenta leitores. Já os jornalistas, com base na experiência acumulada em redações de jornais e revistas, sabem como produzir textos atraen- tes, mas muitos deles sofrem de “alergia” ao pó dos arquivos. Ou seja, limitam-se a citar livros impressos, sem base documental. Assim, se um historiador publicou alguma invencionice ou boutade no século 19, por exemplo, aquela impropriedade é repe- tida indefinidamente. O ideal, portanto, seria sempre aliar o texto bem escrito e de fácil entendimento ao rigor da pesquisa acadê- mica, ainda que as últimas páginas sejam repletas de citações das fontes consultadas. É o que dá credibilidade à obra. Iconoclasta Com a publicação, o mineiro de Cataguases, Ronaldo Werneck, poeta e cronista, tenta minorar uma imperdoável lacuna na fortuna crítica de Rosário Fusco. No caso de Rosário Fusco, não se sabe ainda se os arquivos têm muito que revelar. O que se conhece é que Fusco guardava zelosamente, em sua casa, “quilos” de cartas recebidas do poeta Mário de Andrade (1893-1945), entre outras possíveis preciosida- des, segundo Werneck. Quem sabe uma pesquisa no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro possa revelar fatos inéditos de sua atuação no Departa- mento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de censura e propa- ganda à época da ditadura de Getúlio Vargas (1882-1954), uma passagem de sua vida que não seria edificante, mas que não deve ser vista sob os olhos de hoje em que as ideologias de direita e esquerda fracassaram completamente. De fato, de 1941 a 1943, ele dirigiu, ao lado do jornalista Almir de Andrade (1911-1991), ideólogo do Estado Novo (1937-1946), a publicação Cultura Polí- tica: Revista de Estudos Brasileiros, mantida pelo DIP. Até por isso, como mostra Werneck, Fusco é uma personali- dade perfeita para uma biografia de sucesso. Irreverente, icono- clasta, verborrágico e frasista, deve ter deixado impresso e manus- crito muito material, além dos livros publicados. 196 Adelto Gonçalves