biografias. Os acadêmicos, obviamente, pesquisam mais e reve-
lam detalhes mais importantes e verídicos que estavam perdidos
em arquivos, mas, com raras exceções, escrevem com uma sisu-
dez que afugenta leitores.
Já os jornalistas, com base na experiência acumulada em
redações de jornais e revistas, sabem como produzir textos atraen-
tes, mas muitos deles sofrem de “alergia” ao pó dos arquivos. Ou
seja, limitam-se a citar livros impressos, sem base documental.
Assim, se um historiador publicou alguma invencionice ou
boutade no século 19, por exemplo, aquela impropriedade é repe-
tida indefinidamente. O ideal, portanto, seria sempre aliar o texto
bem escrito e de fácil entendimento ao rigor da pesquisa acadê-
mica, ainda que as últimas páginas sejam repletas de citações
das fontes consultadas. É o que dá credibilidade à obra.
Iconoclasta
Com a publicação, o mineiro de Cataguases, Ronaldo Werneck,
poeta e cronista, tenta minorar uma imperdoável lacuna na
fortuna crítica de Rosário Fusco.
No caso de Rosário Fusco, não se sabe ainda se os arquivos
têm muito que revelar. O que se conhece é que Fusco guardava
zelosamente, em sua casa, “quilos” de cartas recebidas do poeta
Mário de Andrade (1893-1945), entre outras possíveis preciosida-
des, segundo Werneck.
Quem sabe uma pesquisa no Arquivo Nacional do Rio de
Janeiro possa revelar fatos inéditos de sua atuação no Departa-
mento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de censura e propa-
ganda à época da ditadura de Getúlio Vargas (1882-1954), uma
passagem de sua vida que não seria edificante, mas que não deve
ser vista sob os olhos de hoje em que as ideologias de direita e
esquerda fracassaram completamente. De fato, de 1941 a 1943,
ele dirigiu, ao lado do jornalista Almir de Andrade (1911-1991),
ideólogo do Estado Novo (1937-1946), a publicação Cultura Polí-
tica: Revista de Estudos Brasileiros, mantida pelo DIP.
Até por isso, como mostra Werneck, Fusco é uma personali-
dade perfeita para uma biografia de sucesso. Irreverente, icono-
clasta, verborrágico e frasista, deve ter deixado impresso e manus-
crito muito material, além dos livros publicados.
196
Adelto Gonçalves