Refazendo o capitalismo
Edmar Bacha
E
stá em curso um amplo debate sobre o futuro do capita-
lismo e da democracia em função da concentração de renda
no topo da pirâmide social e dos avanços do autoritarismo
e do populismo mundo afora. Pensadores de diversas áreas de
conhecimento buscam alternativas que assegurem um sistema
econômico e político mais equitativo e equilibrado do que o atual.
Livro recentemente lançado nos EUA, e que será publicado em
português pela Cia. das Letras, é extremamente provocativo a
este respeito. Trata-se de Uprooting capitalism and democracy for
a just society (Desenraizando o capitalismo e a democracia para
uma sociedade justa). Seus autores são o economista Glen Weyl,
da Microsoft e da Universidade de Yale, e o jurista Eric Posner, da
Universidade de Chicago.
Os autores explicam no prefácio que a motivação para o livro
foi o contraste que eles constataram visualmente no Rio de Janeiro
entre a riqueza do Leblon e a pobreza da Rocinha. Seu temor é
que os países industriais caminhem para reproduzir esse mesmo
padrão, numa espécie de Belíndia mundial.
Sua proposta para resolver esse problema é radical como diz o
título do livro: trata-se de superar a propriedade privada tal como
a conhecemos, por eles identificada com o monopólio.
Ao asseverarem que a propriedade é o monopólio, os autores
fazem lembrar o socialista francês Proudhon, para quem a
propriedade era o roubo. Mas Posner e Weyl não propõem substi-
tuir os capitalistas pelo Estado. Ao contrário, eles buscam disso-
ciar a propriedade privada do mercado. Aí reside a grande novi-
dade do livro, pois propriedade privada e mercado são normalmente
tratados como se fossem irmãos siameses. Mas não para os auto-
res, que buscam radicalizar o uso do mercado para lidar com as
ineficiências e as desigualdades geradas pela propriedade privada.
Sua proposta é que os proprietários de bens de capital (terras,
máquinas, estruturas etc.) tenham que declarar em registro
público os preços desses bens, sendo esses preços de sua livre
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