À beira do precipício pd51 | Page 173

tlântica propriamente dita, uma criança passava em média quatro meses dentro da embarcação – um prazo mais de 40 dias superior ao passado por homens. Em outras palavras, as estratégias de compra dos mercadores expunham crianças a riscos por mais longos períodos de tempo que os adultos. Analisando 49 viagens de navios negreiros holandeses entre 1751 e 1797, os pesquisadores observaram que crianças eram compradas antes, porque reagiam melhor à experiência traumá- tica. Comparada à de um adulto, sua taxa de mortalidade era a metade, calcularam os pesquisadores. Assim, uma criança tinha mais chance que um adulto de passar longos períodos – até um ano, no caso estudado – dentro de um navio negreiro, entre todas as fases do tráfico. Em uma viagem típica, os navios da Middel- burgsche Commercie Compagnie, que operava no oeste africano, zarpariam com 253 escravos, perderiam 33 ao longo do trajeto e venderiam 220 nas Américas. Sobrevivência As observações dos pesquisadores não eliminam a validade de explicações levantadas anteriormente, que atribuíam a forte escravização de crianças à escassez de adultos em determinadas áreas da África. Outra razão, levantada por Manolo Florentino, destaca que senhores brasileiros podem ter sentido necessidade de "importar" mais mulheres e crianças para garantir mão de obra futura, caso o tráfico negreiro fosse proibido. Richardson e Hogerzeil destacaram, no entanto, que as condições de aprisiona- mento dos homens adultos podem estar relacionadas às taxas de mortalidade menores de crianças. Os homens, comprados aos poucos durante a "fase de carrega- mento" do navio, entravam em grande quantidade no final da etapa, a menos de um mês ou até a menos de uma semana da partida, verificaram os pesquisadores. “A condição dos escravos no momento da embarcação é criticamente importante para determinar porque eles sucumbiam mais durante a travessia", diz o estudo. "Isto pode estar associado a pressões sobre os capitães para levar homens adultos para satisfazer as expectativas dos compradores, o que os encorajava a ser menos rigorosos na seleção". "Os homens também eram tipicamente vistos como instigadores de rebeliões dentro dos O mal maior 171