À beira do precipício pd51 | Page 172

Mar de informação Pode-se afirmar que há uma nova história e compreensão do tráfico de escravos. E dentro dessa nova realidade do que foi esse crime contra a humanidade, comprovou-se que o papel de Portu- gal, do Brasil Colônia (e mesmo depois da Independência), foi hegemônico no tráfico de escravos em relação ao restante dos países que a tinham presente em seu território como mão de obra principal, ou eram apenas transportadores e comerciantes de escravos. Sim, tivemos a liderança absoluta nesse crime contra a humanidade. Em segundo lugar, a Inglaterra, cuja poderosa marinha transportou e vendeu 3 milhões de escravos para todos os países das Américas, abastecendo os mercados das colônias americanas (13 na América do Norte), Jamaica, Caribe, América Central, disputavam também o mercado no Brasil. Dos 12,5 milhões de escravos transportados da África para as Américas, 2,5 milhões morreram durante a travessia oceânica e seus corpos jogados ao mar. Desses 10 milhões de escravos desembarcaram no Brasil 5,8 milhões de escravos, quase 60% do total, em comparação com o total absorvido pelas colônias ameri- canas da Inglaterra (as 13 colônias), 597.000 escravos, um décimo do que veio para o Brasil. O Brasil foi o primeiro país a importar escravos da África, o que praticou o tráfico por mais tempo, o último a  abolir o tráfico e a própria escravidão e não Portugal, como estava estabelecido na literatura. Maleáveis Os dados de Eltis indicam que quase 2,3 milhões de escravos foram enviados ao Brasil entre 1800 e 1850 – destes, 775 mil eram crianças. A alta proporção de menores de 15 anos entre os escravos já era conhecida dos pesquisadores – há estimativas que a colocam em até metade do total –, mas novos dados oferecem novas explicações para este fato. Um estudo de caso, publicado na última edição do Journal of Economic History,  pelos pesquisado- res David Richardson, da Universidade britânica de Hull, e Simon Hogerzeil, do Centro Psicomédico Parnassia holandês, mostrou que crianças reagiam melhor à travessia que os adultos. Segundo Richardson, "no fim da era escrava havia uma percepção geral, por parte dos mercadores, de que as crianças eram mais maleá- veis que os adultos, que poderiam ser treinadas em habilidades específicas". Antes que o navio zarpasse para a viagem transa- 170 Luís Mir