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Pode-se afirmar que há uma nova história e compreensão do
tráfico de escravos. E dentro dessa nova realidade do que foi esse
crime contra a humanidade, comprovou-se que o papel de Portu-
gal, do Brasil Colônia (e mesmo depois da Independência), foi
hegemônico no tráfico de escravos em relação ao restante dos
países que a tinham presente em seu território como mão de obra
principal, ou eram apenas transportadores e comerciantes de
escravos. Sim, tivemos a liderança absoluta nesse crime contra a
humanidade. Em segundo lugar, a Inglaterra, cuja poderosa
marinha transportou e vendeu 3 milhões de escravos para todos
os países das Américas, abastecendo os mercados das colônias
americanas (13 na América do Norte), Jamaica, Caribe, América
Central, disputavam também o mercado no Brasil.
Dos 12,5 milhões de escravos transportados da África para as
Américas, 2,5 milhões morreram durante a travessia oceânica e
seus corpos jogados ao mar. Desses 10 milhões de escravos
desembarcaram no Brasil 5,8 milhões de escravos, quase 60% do
total, em comparação com o total absorvido pelas colônias ameri-
canas da Inglaterra (as 13 colônias), 597.000 escravos, um décimo
do que veio para o Brasil. O Brasil foi o primeiro país a importar
escravos da África, o que praticou o tráfico por mais tempo, o
último a abolir o tráfico e a própria escravidão e não Portugal,
como estava estabelecido na literatura.
Maleáveis
Os dados de Eltis indicam que quase 2,3 milhões de escravos
foram enviados ao Brasil entre 1800 e 1850 – destes, 775 mil
eram crianças. A alta proporção de menores de 15 anos entre os
escravos já era conhecida dos pesquisadores – há estimativas que
a colocam em até metade do total –, mas novos dados oferecem
novas explicações para este fato. Um estudo de caso, publicado na
última edição do Journal of Economic History, pelos pesquisado-
res David Richardson, da Universidade britânica de Hull, e Simon
Hogerzeil, do Centro Psicomédico Parnassia holandês, mostrou
que crianças reagiam melhor à travessia que os adultos. Segundo
Richardson, "no fim da era escrava havia uma percepção geral,
por parte dos mercadores, de que as crianças eram mais maleá-
veis que os adultos, que poderiam ser treinadas em habilidades
específicas". Antes que o navio zarpasse para a viagem transa-
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Luís Mir