diverge também é uma ameaça ao convívio dos integrantes de
uma comunidade. Os que eventualmente vierem a aplaudi-lo, os
que pedirem aos brados o seu linchamento, os que banalizarem o
ato alegando que a vítima atraiu para si o que prega para os
outros, os que acharem que não ocorreu nada demais, estarão
vendo o mundo com lentes distorcidas, sem conseguir valorizar
aquilo que nos faz únicos no exercício político de substituir a
guerra pelo diálogo. Polis, Urbe, Civitas são conceitos que passam
longe deles, porque não sabem o que é democracia.
O atentado, repudiado por todos, expressa um país que não se
deseja, mas que existe.
Além do futuro
Não deve haver brasileiros que, ao menos uma vez na vida, não
se perguntaram se o Brasil é viável. O volume de problemas,
tragédias, malfeitos, crimes e carências é tão grande que desaba
sobre a vida cotidiana como uma tormenta, que desilude, gera
conformismo ou indignação irracional. Por sorte, também gera
um pouco de consciência de que há um futuro mais à frente,
alcançável, se esforço coletivo houver.
Eleições são momentos de esperança e reflexão, desenhados
para energizar a cidadania e impulsioná-la para um patamar de
maior compreensão das dificuldades e possibilidades de uma
dada comunidade. Por elas trafegam o futuro, o passado e o
presente, imbricados numa dialética de reiterações e superações.
Em 2018, no Brasil, os debates eleitorais têm sido rasos: diag-
nosticam rapidamente algumas dificuldades, carregam nas tintas
ao falar do presente e se dedicam a apresentar um futuro que
viria por osmose, por transposição passiva ou emulação, está ao
alcance das mãos. Nenhum candidato faz a pergunta crucial: não
estaria o Brasil perdendo tempo, deixando-se envolver em choques
e atritos perfunctórios, que dizem pouco sobre o futuro? Estamos
conseguindo vislumbrar o futuro ou corremos o risco de vê-lo se
dissolver, como se estivéssemos além dele, numa zona de trevas e
gases tóxicos, que impedem a visão e inebriam?
Largas faixas da população vivem com a impressão de que, no
curto prazo da história, até onde pode chegar a visão, não haverá
dias melhores.
Tempo de choques, atritos e facadas
15