À beira do precipício pd51 | Page 17

diverge também é uma ameaça ao convívio dos integrantes de uma comunidade. Os que eventualmente vierem a aplaudi-lo, os que pedirem aos brados o seu linchamento, os que banalizarem o ato alegando que a vítima atraiu para si o que prega para os outros, os que acharem que não ocorreu nada demais, estarão vendo o mundo com lentes distorcidas, sem conseguir valorizar aquilo que nos faz únicos no exercício político de substituir a guerra pelo diálogo. Polis, Urbe, Civitas são conceitos que passam longe deles, porque não sabem o que é democracia. O atentado, repudiado por todos, expressa um país que não se deseja, mas que existe. Além do futuro Não deve haver brasileiros que, ao menos uma vez na vida, não se perguntaram se o Brasil é viável. O volume de problemas, tragédias, malfeitos, crimes e carências é tão grande que desaba sobre a vida cotidiana como uma tormenta, que desilude, gera conformismo ou indignação irracional. Por sorte, também gera um pouco de consciência de que há um futuro mais à frente, alcançável, se esforço coletivo houver. Eleições são momentos de esperança e reflexão, desenhados para energizar a cidadania e impulsioná-la para um patamar de maior compreensão das dificuldades e possibilidades de uma dada comunidade. Por elas trafegam o futuro, o passado e o presente, imbricados numa dialética de reiterações e superações. Em 2018, no Brasil, os debates eleitorais têm sido rasos: diag- nosticam rapidamente algumas dificuldades, carregam nas tintas ao falar do presente e se dedicam a apresentar um futuro que viria por osmose, por transposição passiva ou emulação, está ao alcance das mãos. Nenhum candidato faz a pergunta crucial: não estaria o Brasil perdendo tempo, deixando-se envolver em choques e atritos perfunctórios, que dizem pouco sobre o futuro? Estamos conseguindo vislumbrar o futuro ou corremos o risco de vê-lo se dissolver, como se estivéssemos além dele, numa zona de trevas e gases tóxicos, que impedem a visão e inebriam? Largas faixas da população vivem com a impressão de que, no curto prazo da história, até onde pode chegar a visão, não haverá dias melhores. Tempo de choques, atritos e facadas 15