Segundo o Atlas of the Transatlantic Slave Trade, de David
Eltis e David Richardson (Yale University Press, 2015), cerca de
12,5 milhões de escravos deixaram a costa da África entre 1500 e
1867, quando se tem registro do último carregamento. Em torno
de 10 milhões chegaram aos seus destinos nas Américas. Nos
cálculos desses pesquisadores, dos 5,5 milhões de pessoas que
tinham como destino o Brasil, apenas 4,9 milhões desembarca-
ram em portos brasileiros. E dentre esse total, foram pesquisadas
34.948 viagens transatlânticas para inferir o número total de
viagens de transporte de escravos da África. Desses 12,5 milhões
e meio de cativos que partiram da África para as Américas se
pode dividir esse total pelo número médio de pessoas embarcadas
por viagem, de 304 pessoas, e temos 41.190 viagens. E 10,7
milhões foram desembarcados nas Américas.
A média de escravos mortos a bordo, durante a travessia, por
várias causas, foi entre 12% a 15%, num total de 2,5 milhões.
Calculado pelo número médio de desembarcados por viagem, 265
pessoas, em relação à média de 304 pessoas embarcadas por
navio, em 40.380 viagens completas, que partiram e chegaram ao
porto de destino final nas Américas vindos da África. Esse feno-
menal conjunto de dados permite examinar de onde partiu e
aonde atracou cada uma das embarcações, a duração da viagem,
quantos escravos foram comprados e embarcados no início da
viagem, quantos vendidos (e a que preço), a nacionalidade do
navio e até o nome do capitão.
A consolidação final dos dados coletados reúne quase 35 mil
viagens de navios negreiros realizadas entre 1501, quando há
registro da primeira leva de escravos, e 1867, quando o tráfico foi
abolido. Mais de 5,2 mil jornadas de navios brasileiros e portu-
gueses foram mapeadas pela primeira vez. Embarcações brasilei-
ras e portuguesas carregaram quase 5,8 milhões de escravos,
cerca de 95% deles para o Brasil. Navios britânicos, que o senso
comum julga serem os mais ativos no comércio negreiro, levaram
cerca de 3,1 milhões. A dominância britânica do tráfico de escra-
vos se resumiu a apenas oito de 13 décadas entre 1681 e 1807,
entre dois longos períodos de hegemonia brasileira e portuguesa
em que a participação britânica foi irrelevante. Os novos dados
dessa investigação conferem nova dimensão a fatos já conhecidos
de historiadores brasileiros, como o de que o comércio de escravos
era dominado por agentes baseados no Brasil e não em Portugal
– ou seja, na colônia, e não na metrópole.
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Luís Mir