À beira do precipício pd51 | Page 167

O mal maior Luís Mir Ao penetrar nas sociedades modernas destruiu-lhe a escravi- dão a maior parte de seus fundamentos morais e alterou as noções mais precisas de seu código, substituindo um estado, comparativamente e para todas, de progresso pelo mais obsti- nado regresso até fazê-las encontrar a velha civilização de que saíram através de chamas purificadoras. Na verdade, somente quem olha para esta instituição, cegado pela paixão ou pela ignorância, pode não ver como ela degradou vários povos modernos a ponto de torná-los paralelos a povos corrompidos que passaram. Não é somente o adiantamento moral que ela entorpece com o trabalho servil é também o moral, e dizendo moral eu compreendo o adiantamento da civilização, a saber, das artes, das ciências, das letras, dos costumes, dos governos, dos povos: do progresso enfim. (A Escravidão, Joaquim Nabuco, 1870). D urante a colonização europeia das Américas, um fluxo constante de povos europeus migrou para o Novo Mundo entre 1492 e o início do século XIX. E foram eles, em mais de dois séculos e meio, que instituíram a escravidão no dito Novo Mundo. O tráfico transatlântico de escravos africanos para eles era indistinguível do transporte de tecidos, de trigo, ou mesmo de açúcar. Eles não eram humanos para a colonialista Europa, e sim mão de obra gratuita e disponível para suas colônias americanas, cujo investimento se reduzia à compra do escravo do traficante por um preço fixado previamente e este se pagava em pouquís- simo tempo em trabalhos forçados até o final de sua vida. A escravidão constituiu a relação comercial mais importante do contato entre europeus e africanos na África e nas Américas. A maior migração transoceânica de um povo até então forneceu às Américas uma força de trabalho fundamental para o seu desenvol- vimento econômico. Os milhões de escravos africanos e seus descendentes foram fundamentais para construir o que são hoje as Américas modernas, material, econômica e culturalmente. 165