O mal maior
Luís Mir
Ao penetrar nas sociedades modernas destruiu-lhe a escravi-
dão a maior parte de seus fundamentos morais e alterou as
noções mais precisas de seu código, substituindo um estado,
comparativamente e para todas, de progresso pelo mais obsti-
nado regresso até fazê-las encontrar a velha civilização de que
saíram através de chamas purificadoras. Na verdade, somente
quem olha para esta instituição, cegado pela paixão ou pela
ignorância, pode não ver como ela degradou vários povos
modernos a ponto de torná-los paralelos a povos corrompidos
que passaram.
Não é somente o adiantamento moral que ela entorpece com o
trabalho servil é também o moral, e dizendo moral eu
compreendo o adiantamento da civilização, a saber, das artes,
das ciências, das letras, dos costumes, dos governos, dos povos:
do progresso enfim. (A Escravidão, Joaquim Nabuco, 1870).
D
urante a colonização europeia das Américas, um fluxo
constante de povos europeus migrou para o Novo Mundo
entre 1492 e o início do século XIX. E foram eles, em mais
de dois séculos e meio, que instituíram a escravidão no dito Novo
Mundo. O tráfico transatlântico de escravos africanos para eles
era indistinguível do transporte de tecidos, de trigo, ou mesmo de
açúcar. Eles não eram humanos para a colonialista Europa, e sim
mão de obra gratuita e disponível para suas colônias americanas,
cujo investimento se reduzia à compra do escravo do traficante
por um preço fixado previamente e este se pagava em pouquís-
simo tempo em trabalhos forçados até o final de sua vida.
A escravidão constituiu a relação comercial mais importante do
contato entre europeus e africanos na África e nas Américas.
A maior migração transoceânica de um povo até então forneceu às
Américas uma força de trabalho fundamental para o seu desenvol-
vimento econômico. Os milhões de escravos africanos e seus
descendentes foram fundamentais para construir o que são hoje as
Américas modernas, material, econômica e culturalmente.
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