À beira do precipício pd51 | Page 150

A esquerda europeia e as políticas migratórias Michael Bröning O s eleitores europeus se opõem, cada vez mais, à imigra- ção e não confíam que a esquerda lhe ponha limites. Ao invés de desenvolver uma política progressista, alguns partidos social-democratas europeus têm optado por assumir políticas migratórias restritivas. Apesar disso, a social-democra- cia pode desenvolver uma estratégia racional para a imigração, sem trair seus valores. A esquerda tradicional europeia enfrenta uma ameaça de extinção. Em menos de dois anos, os partidos social-democratas do continente sofreram derrotas históricas na França, nos Países Baixos, na Alemanha e na Itália. Em um continente onde a disputa entre partidos de centro-direita e centro-esquerda era o habitual, o colapso da esquerda pode trazer profundas conse- quências que excedem os interesses particulares dos partidos. O declínio da esquerda tem atrás de si muitos fatores, entre eles a dissolução da classe trabalhadora tradicional. Porém, uma das razões mais importantes é dura e simples: os eleitores euro- peus se opõem, cada vez mais, à imigração, e não confiam que a esquerda lhes ponha limites. Frente a uma entrada de refugiados e imigrantes (sobretudo do Oriente Médio e da África), os eleitores europeus transforma- ram uma série de eleições recentes em referendos populares sobre a imigração. Os movimentos populistas de direita souberam explorar os medos dos eleitores da classe operária, convencendo- lhes de que os partidos trabalhistas tradicionais permitirão uma entrada praticamente irrestrita de imigrantes. Em abril, o primeiro ministro húngaro Viktor Orbán obteve uma vitória eleitoral esmagadora, após uma campanha que centrou na “ameaça” aos “valores cristãos” que estariam sendo reivindicados pelos imigrantes muçulmanos. O novo governo de coalizão antissistema da Itália ascendeu ao poder graças à popu- laridade da firmemente xenófoba Liga, conduzida por Matteo Salvini, novo Ministro do Interior e vice-Primeiro Ministro. 148