À beira do precipício pd51 | Page 15

Tempo de choques, atritos e facadas Marco Aurélio Nogueira U ma inesperada facada, no meio da multidão, quase fez com que um corpo se estendesse no chão em meio à mais tensa e enigmática campanha presidencial das últimas décadas. A facada foi em Jair Bolsonaro, candidato do PSL, assim como meses atrás o alvo havia sido Marielle e um ônibus do PT. Sangue, fúria e ódio mal calibrados, que espirram na vida coletiva, afetam a todos nós, ferem a democracia. Disputas políticas não levam a lugar nenhum quando incluem a eliminação física dos adversários. Especialmente em condições democráticas, nas quais a “guerra” se faz de outro modo. A polí- tica precisa se afirmar não como poder, mas como convite ao diálogo, à moderação, à mediação do que é diverso e plural. Tudo isso é mais que sabido, mas de tempos em tempos os atores perdem a memória. Numa sociedade em cujo DNA a democracia entrou tardiamente e de forma seletiva, mais como sistema do que como valor, são muitos os que não conseguem entender aquilo que é procedimento obrigatório, exigência, custo, “sacrifício”: ninguém está autorizado a se afirmar pela força, contra a vontade da maioria, desprezando leis e institui- ções construídas coletivamente. Não há nem sequer a possibilidade de que se diga, para justi- ficar o fanatismo, o exagero, a agitação pueril, que leis e institui- ções foram impostas por oligarquias e classes dominantes, pelo 13