dentes da lógica religiosa. Desta forma, nos séculos XV e XVI, já
era possível encontrar algumas autoras escrevendo acerca de
uma reivindicação de igualdade com os homens.
A segunda onda do feminismo, por sua vez, teve início nos Esta-
dos Unidos, na década de 1960, e nos anos seguintes foi se espa-
lhando por outros países ocidentais e em partes da Ásia. Tal onda
não lutava apenas por uma igualdade formal entre homens e mulhe-
res, mas foi se embrenhando nas relações mais pessoais envolvendo
os sexos, como família, mercado de trabalho e sexualidade, procu-
rando elevar o papel da mulher à condição de igualdade em relação
ao papel desempenhado pelo homem em sociedade, inclusive nas
questões não formais ou infralegais. Outra grande contribuição
dessa onda do feminismo pode ser extraída da frase "o pessoal
também é político". Com essa máxima, o feminismo pôs em xeque o
princípio da propriedade privada para a teoria liberal.
A terceira onda do movimento feminista surgiu na década de
1990, carregando em seu cerne uma gama de críticas à segunda
onda do movimento, como a falta de engajamento das mulheres
negras, transexuais e as mulheres da periferia, ou seja, aquelas
que moram em países ou regiões mais pobres. Essa onda é consi-
derada mais radical e foi ela que possibilitou a abertura para
que novos conceitos sociais pudessem ganhar espaço dentro do
movimento feminista.
A construção do gênero como algo puramente social e a acei-
tação de dezenas de novos gêneros, importando na quebra dos
signos de “homem” e “mulher”, passou a ser uma das bandeiras
levantadas por várias vertentes do movimento feminista contem-
porâneo. Foi a terceira onda que começou a abraçar o descola-
mento entre a biologia e a história em um nível mais agudo.
A própria ideia de desconstrução de tudo que for relativo ao este-
reótipo dos gêneros “homem” e “mulher” aparentemente passou a
ser uma obsessão entre algumas feministas.
É interessante observar como a busca por igualdade de direi-
tos, igualdade de oportunidades e igualdade de tratamento, uma
vez tão caras ao movimento feminista, passou a representar a
busca pela quebra de todos os padrões ou estereótipos construí-
dos acerca dos gêneros, sob a alegação de que isso pode melhorar
a condição da mulher na sociedade.
Compreender o feminismo, um movimento tão diversificado e
que trouxe tantas consequências para a sociedade, não é uma
A multiplicidade de gêneros no século XXI
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