A multiplicidade de gêneros
no século XXI
Renata Marim Hahon
E
ste artigo procura mostrar como a humanidade, ao se afas-
tar do paradigma biológico e adotar um paradigma histó-
rico para a compreensão de seu desenvolvimento, acabou
por abandonar a base biológica que informa sua existência, o que
incentivou um subjetivismo radical que se manifesta na adoção
de uma multiplicidade de gêneros, afetando a dicotomia homem-
-mulher e a própria luta das mulheres pela igualdade de gênero.
Segundo Yuval Noah Harari, autor de Sapiens – Uma Breve Histó-
ria da Humanidade, a Revolução Cognitiva tirou a civilização
humana do paradigma biológico e a introduziu no paradigma histó-
rico. É justamente essa mudança de paradigma que fez com que o
ser humano pudesse se desenvolver e criar instituições, religiões,
política, tecnologias etc, diferenciando-se dos demais animais.
“Três importantes revoluções definiram o curso da história.
A Revolução Cognitiva deu início à história, há cerca de 70 mil
anos. A Revolução Agrícola a acelerou, por volta de 12 mil anos
atrás. A Revolução Científica, que começou há apenas 500 anos,
pode muito bem colocar um fim à história e dar início a algo
completamente diferente. Este livro conta como essas três revolu-
ções afetaram os seres humanos e os demais organismos”.
(HARARI, 2011, p. 8).
O paradigma histórico trazido pela Revolução Cognitiva
consiste, basicamente, na capacidade de criar histórias, e isso
nos separa dos demais animais, como os primatas, que genetica-
mente são muito parecidos conosco, mas na prática são comple-
tamente diferentes. Isto, inclusive, nos levou ao ponto de, durante
vários séculos, nos enxergarmos não como animais, mas como
uma criatura separada, de outra origem, nascida-pronta. “Mas
isto simplesmente não é verdade [...]. Há apenas 6 milhões de
anos, uma mesma fêmea primata teve duas filhas. Uma delas se
tornou a ancestral de todos os chimpanzés; a outra é nossa avó”.
(HARARI, 2011, p. 10).
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