À beira do precipício pd51 | Page 138

A multiplicidade de gêneros no século XXI Renata Marim Hahon E ste artigo procura mostrar como a humanidade, ao se afas- tar do paradigma biológico e adotar um paradigma histó- rico para a compreensão de seu desenvolvimento, acabou por abandonar a base biológica que informa sua existência, o que incentivou um subjetivismo radical que se manifesta na adoção de uma multiplicidade de gêneros, afetando a dicotomia homem- -mulher e a própria luta das mulheres pela igualdade de gênero. Segundo Yuval Noah Harari, autor de Sapiens – Uma Breve Histó- ria da Humanidade, a Revolução Cognitiva tirou a civilização humana do paradigma biológico e a introduziu no paradigma histó- rico. É justamente essa mudança de paradigma que fez com que o ser humano pudesse se desenvolver e criar instituições, religiões, política, tecnologias etc, diferenciando-se dos demais animais. “Três importantes revoluções definiram o curso da história. A Revolução Cognitiva deu início à história, há cerca de 70 mil anos. A Revolução Agrícola a acelerou, por volta de 12 mil anos atrás. A Revolução Científica, que começou há apenas 500 anos, pode muito bem colocar um fim à história e dar início a algo completamente diferente. Este livro conta como essas três revolu- ções afetaram os seres humanos e os demais organismos”. (HARARI, 2011, p. 8). O paradigma histórico trazido pela Revolução Cognitiva consiste, basicamente, na capacidade de criar histórias, e isso nos separa dos demais animais, como os primatas, que genetica- mente são muito parecidos conosco, mas na prática são comple- tamente diferentes. Isto, inclusive, nos levou ao ponto de, durante vários séculos, nos enxergarmos não como animais, mas como uma criatura separada, de outra origem, nascida-pronta. “Mas isto simplesmente não é verdade [...]. Há apenas 6 milhões de anos, uma mesma fêmea primata teve duas filhas. Uma delas se tornou a ancestral de todos os chimpanzés; a outra é nossa avó”. (HARARI, 2011, p. 10). 136