À beira do precipício pd51 | Page 135

mundo. O socialismo consciente, portanto, humano e realista, tem uma enorme missão na busca e introdução da justiça social. Mas, sem uma autocrítica consistente e permanente, tende a cair na vala comum do que foi chamado de letra morta da História. É um momento de aprendizado. As novas gerações promovem uma ruptura, e não apenas uma mudança. A realidade empírica está a indicar o relativismo como alternativa, por entender que a verdade é uma interpretação. Todos a procuram de maneira dife- rente, embora sua função social não possa ser ignorada por ninguém. A autocrítica permanente é um método recomendado aos socialistas como forma de manterem-se alinhados à realidade e de corrigirem desvios no curso de revoluções e de governos. A Ala Vermelha do Partido Comunista do Brasil deixou uma bela experiência sobre o tema. Os conservadores chamam isso de avaliação, de reavaliação ou de balanço. Nada contra. O filósofo marxista húngaro István Mészáros (2006) observa que o pensamento marxiano não é um sistema fechado, sagrado, que não possa ser modificado, retraba- lhado, inclusive, com base em categorias externas que se mostrem razoáveis. Para ele, a autocrítica é propulsora de novas visões e táticas, mas, adverte, não necessariamente de avanços teóricos. O problema estaria, de fato, nas categorias que a praticam. A “nova esquerda” traz algumas reflexões que não podem ser ignoradas. A prática da autocrítica está amparada no socialismo cientí- fico de Marx. É inspiradora a advertência de Lukács, 30 anos atrás: na raiz dos problemas nacionais, está uma modalidade de oportunismo que é, talvez, a mais grave das deformações lega- das por Stálin: em vez de utilizar os princípios teóricos gerais do marxismo para corrigir a ação prática, os revolucionários subor- dinam-se mecanicamente às necessidades imediatas, às exigên- cias momentâneas da atividade política. “Com isso, renunciam a uma das conquistas fundamentais da perspectiva marxista: a unidade da teoria e da prática. A teoria fica reduzida à condição de escrava da prática, e a prática perde sua profundidade revo- lucionária”. Segundo o filósofo, os efeitos de semelhante situação são catastróficos. A perspectiva da autocrítica, reforçada no espaço da Lava-Jato por mecanismos jurídicos inovadores, ajudaria muito a desanu- viar o cenário que aí está. Incita a reflexão. As delações são uma oportunidade rara para o desmonte da máquina de dominação Socialismo: caminhando sobre um vazio de sentido 133