mobilizações de rua eram estigmatizadas como comunistas ou
anarquistas, e chegaram a merecer CPI para fiscalizar a atuação
das ONGs no país. Mas, depois das manifestações de rua de 2013
ficou difícil qualificar politicamente os participantes, que se
moviam indignados de um lado para o outro, acionados por
simples telefones celulares.
O discurso e as estratégias convencionais estão ficando cada
vez mais distantes das ansiedades da sociedade civil, por sua vez,
mais consciente dos seus direitos. As tecnologias ampliam o poder
de cidadania, ao permitir a geração de correntes de apoio ao
desenvolvimento civil comum a pequenos grupos politicamente
angustiados ou prejudicados pelo estado da arte da Política.
No mundo digital, as pessoas parecem tentar querer recupe-
rar o Poder que a natureza lhes outorgou, e os interesses priva-
dos os usurparam. Laços eletrônicos interativos, sem possibili-
dade de controle pelo Estado, vão se estabelecendo. Com ações
mobilizadoras em tempo real e no espaço virtual, abriu-se a
possibilidade de se provocar grandes rupturas nos modelos
econômicos, políticos, sociais e até institucionais, sem serem
guiadas por ideologias ou partidos.
Nicholas Kulish, jornalista do NYT, adverte que o cansaço, a
desilusão e desprezo mesmo pelo processo político democrático
tradicional estão levando cada vez mais cidadãos a rejeitar as
estruturas convencionais. São queixas contra corrupção,
corporativismos exacerbados, falta de moradia, desemprego,
cortes em gastos sociais, má distribuição de renda, problemas
que os governos não conseguem resolver. As pessoas agem
anônimas, espontâneas e independentes de um parlamento de
inspiração montesquiana, de parlamentares amparados pela
legalidade, de um Exército formal ou mesmo de qualquer violên-
cia política revolucionária ou repressiva que tem caracterizado
as grandes mudanças na História.
Verdade, um conteúdo imaginário
Aparentemente, há uma desilusão geral com a política e os
políticos. Felizmente, a sociedade brasileira é dada mais à conci-
liação, e menos ao ódio e à violência conduzidas por ideias exóti-
cas e sujeitos estranhos. Mas as condições materiais da existência
e a dimensão colocada tanto por Pondé quanto Bertrand Russel
Socialismo: caminhando sobre um vazio de sentido
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