discursos correntes. Existem hoje no mundo mais de dois bilhões
de pessoas conectadas. Por aqui, as redes estariam reunindo 65
milhões de internautas, 1/3 da população brasileira, e 60% do
universo de eleitores, 84% conectados em rede pelo Facebook,
conforme pesquisa da Hello Research, realizada em 70 cidades
brasileiras, entre setembro e outubro de 2012. (FSP,14/12/2012). 1
As redes são virais e estão infiltradas em empresas, em gover-
nos, partidos, grupos sociais, tribos, clubes e até no Colégio dos
Cardeais do Vaticano. Em todo o mundo, os políticos tentam se
aproximar estrategicamente das redes, não para colher suges-
tões, mas com intuito maior de usá-las a seu serviço. Congressis-
tas mantêm-se ligados a seus eleitores pela internet, uma rede
mais administrável, por meio de sites próprios, e-mails etc. e
circulam incógnitos e, com reservas, pelas redes sociais.
No Brasil, o Congresso Nacional passou a utilizar preventiva
e de maneira oportunista a expressão Parlamento Digital para
identificar nas redes sociais preocupações correntes da socie-
dade civil, de forma a tentar antecipar temáticas, imobilizar
potenciais manifestações, cooptando internautas no processo
político formal, ou obtendo deles apoio para iniciativas parla-
mentares. Os congressistas têm na internet ou nas redes um
instrumento para trabalhar com mais conforto, ou seja como um
instrumento de apoio.
Nas condições analógicas de hoje (2018), o cidadão interessado
em participar do processo político pela via legislativa somente pode
fazê-lo mediante a apresentação de proposta ao Congresso, assi-
nada por 1,3 milhão de eleitores, via parlamentares, cujos interes-
ses nem sempre coincidem com os dos cidadãos. A Lei da Ficha
Limpa, para ser discutida no Congresso precisou previamente de
1,5 milhão de assinaturas. Teve ampla aprovação, mas alguns dos
dispositivos originais foram contornados e esvaziados.
Tudo isso faz com que os cidadãos se juntem virtualmente, em
rede digital, para organizar ou exigir do Estado mudanças e
apoios fundamentais para situações incompatíveis com a vida
social e as necessidades dos indivíduos. No passado, as grandes
1 A pesquisa identificou a potencialidade mobilizadora desses grupos, revelando
que, 30% do conteúdo das redes são assuntos variados, 27% dos internautas
podem ser identificados como “do contra”, portanto, pessoas politizadas, e 20%
como fanáticos (hooligans). Faltam dados sobre o Whats App, hoje (2018) a
mais popular delas.
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Aylê-Salassié F. Quintão