À beira do precipício pd51 | Page 130

tarefas rotineiras, dão agilidade às informações e aos processos, multiplicando a capacidade do sistema de produção e a reprodu- ção dos recursos disponíveis. Tudo isso acontece muito tímido no Brasil, por falta, não apenas de competência, mas também de um arcabouço conceitual realista capaz de introduzir novas vanguar- das e reinterpretações da História. A nação compreende hoje uma força de trabalho da ordem de 80 a 90 milhões de trabalhadores, incluindo os informais, mas, pelo menos, 15 milhões deles estão desempregados. Por sua vez, reúne mais de 200 milhões de pessoas conectadas, entre si, das quais 50 milhões de crianças, adolescentes e jovens no início da vida adulta. São os representantes das novas gerações, que emer- gem, sem convicções enraizadas na vitalidade da economia nacio- nal, ou nos valores herdados dos curiosos visitantes e empresá- rios estrangeiros, enfeitiçados pelas riquezas nacionais. Caloteiros no paraíso Uma candidata à Presidência da República do Brasil, nas elei- ções de 2018, tinha em seu programa a proposta de dar um calote na dívida pública – ver a experiência da Argentina – e no endivida- mento externo, como se o mundo em que a nação brasileira está inserido pudesse ser resumido à sua provincianidade. Os Bahá’ís, desacreditados como minoria religiosa, sempre ensinaram que “A Terra é um só mundo e, nós, humanos, seus cidadãos”. Por causa de discursos fragmentários, quase odientos, como aquele da candidata, o Brasil veio perdendo, aos poucos, a áurea de “país do futuro” (ZWEIG,1941) . Chegou a ser considerado um Éden pelos “viajantes estrangeiros”, para nos caracterizar como cida- dãos dos trópicos. Essa visão entusiasmada de nossa identidade foi interrompida, contudo, por discursos inconsequentes de dirigentes irresponsáveis,e terminamos rebaixados moralmente, para ganhar a pecha de “caloteiros” das agências internacionais de avaliação de risco. A desonestidade política, o ufanismo barato, as visões messiânicas geraram rupturas em todas as frentes da sociedade. Estas contradições vão abrindo espaços para o afloramento de uma comunidade interconectada, descrente das pretensas e apolo- géticas mudanças analógicas, transitando cotidianamente por espa- ços virtualizados, via dezenas de redes digitais: Twitter, Facebook, 128 Aylê-Salassié F. Quintão