À beira do precipício pd51 | Page 128

ros da Inquisição e da perseguição a protestantes, na Àfrica, e aos Bahá’is, no mundo árabe – o ódio combina de maneira ampla a frustração e a maldade. Como metodologia revolucionária, o ódio ganhou espaço na História, expandiu-se e vem sendo banalizado entre cidadãos, sobretudo entre os mais jovens. Haja vista os atentados em esco- las nos Estados Unidos, nas áreas periféricas no Brasil e, mais recentemente, praticado pelo Estado Islâmico (EIL). Ganha adep- tos em vários lugares no mundo, atravessando valores humanos e o mal configurado ainda sentido da vida. Parece que, ao contrário do que diz Edmund Burke, a História não ensinou nada para os que vieram depois. Grandes desastres humanos foram produzidos sucessivamente, devido ao cultivo do ódio: na Alemanha, na Espanha, na União Soviética, na China, nos Estados Unidos, na América Latina, na África entre popula- ções tribais. Ele se apresenta assim, com várias faces, amparado em discursos retóricos ou ideológicos, destruindo referenciais identitários e milhões de vidas inocentes. No Brasil, sem compromisso explícito com a unidade nacional e a solidariedade regional, há quem chegue a defender a separa- ção do Sul do resto do país. Mantidas as atuais condições, é um problema para o futuro, uma revolta ou uma revolução em poten- cial, uma ameaça incubada no país de 8 milhões de km 2 de exten- são e de 206 milhões de habitantes, envolvendo uma parcela significativa da população. Com cenário histórico anuviado, o que se vê por aqui, nesses anos vinte do início do século XXI, são as instituições responsá- veis pela gestão do contrato social perdendo aos poucos a legitimi- dade: o Executivo, inchado, chefiado por um presidente (vice) teimosamente ocupado em sobreviver, e ineficiente na condução das políticas públicas, omissão que contribui para o país submer- gir a uma das mais graves recessões da história nacional. O Legislativo isola-se cada vez mais da população. E o Judiciário apresenta-se confuso e inconsequente diante dos problemas que afetam a sociedade e a governança. Importantes mudanças, ajustes e rupturas são contornadas ad eternum, para preservar vantagens pessoais e privilégios de classe. O Estado definha, tentando safar-se de suas responsabili- dades ou competindo com a iniciativa privada, tomado por uma camada de funcionários públicos e representantes corporativos 126 Aylê-Salassié F. Quintão