O novo mapa da autocracia global
Cyro Andrade
N
o princípio de novembro de 2007, o jornal New York Times
publicou um artigo de seu correspondente na China,
Howard French, com este título: "E se Pequim estiver
certa?" (What if Beijing is right?). No texto, ele fazia perguntas,
sempre começando por what if, em que sugeria a possibilidade de
o regime chinês conter uma essência de racionalidade e eficiência,
talvez exemplar, não percebida no Ocidente. French encerrava seu
exercício de hipóteses admitindo não haver respostas conclusivas
a dar naquele momento.
Passados quase 11 anos, a China continua praticando seu
capitalismo de Estado, politicamente fechado, movido a taxas de
PIB menos retumbantes, mas ainda extraordinárias em termos
comparativos globais. Os EUA, tidos como berço das liberdades e
direitos políticos no Ocidente (ressalvados desvios que a história
também registrou), equilibram-se, como os europeus, na balança
do cresce-não-cresce, em espasmos que não sugerem avanços de
sustentabilidade em direção ao futuro – e agora são classificados
como um país em processo de autocratização, ou seja, onde os
atributos definidores da democracia perdem vigor. Figuram assim
rotulados no ranking de 178 países do Índice da Democracia Libe-
ral" (IDL) do Varieties of Democracy Institute (V-Dem), que acaba
de divulgar seu relatório de 2018. O instituto, ligado à Universi-
dade de Gotemburgo, na Suécia, mantém um banco de dados
sobre democracia que é considerado o maior do mundo no tema. 1
Não há comparação direta a fazer, naturalmente, entre o que
ocorre na China e nos EUA. Em matéria de autocratização, o país de
Xi Jinping incorpora a completa negação da democracia ao estilo
ocidental. Guardadas as proporções, porém, pode-se dizer que
1 O Varieties of Democracy Institute (V-Dem Institute) é ligado ao Departamento
de Ciência Política da Universidade de Gotemburgo, na Suécia. Seu banco de
dados reúne quase 20 milhões de registros, aplicados à construção de 450 indi-
cadores e índices, referentes a 178 países, com uma abrangência estatística que
vai de 1972 a 2017. Um primeiro relatório foi publicado no ano passado, com
apontamentos de 2016. Este de agora vem com o acréscimo de dados históricos,
desde 1789, referentes a 91 países.
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