À beira do precipício pd51 | Page 104

Entramos , portanto , na discussão da sub-representação de negros nas esferas de poder . Na Câmara dos Deputados , apenas 4,3 % se declaram negros ( 20,1 % negros e pardos ). A questão se dá também dentro dos partidos políticos . O PCB , que foi o partido de esquerda mais importante durante a maior parte do século XX , até meados dos anos 70 , tinha dificuldades em elaborar teorias políticas sobre a questão étnica , visto que sua percepção era a da classe trabalhadora , dentro da qual estariam todos . Houve lideranças importantes , como Jorge Amado , que conseguiu no Congresso Constituinte de 1946 apoio para a aprovação do seu projeto de lei sobre a liberdade de culto , e Claudino José da Silva , cuja emenda parlamentar , também na Constituinte de 1946 , foi a base da Lei Afonso Arinos . Mas a questão da sub-representação persistiu e veio até os dias de hoje . O estudo dos patrimônios declarados de candidatos negros em comparação com brancos demonstra a grande diferença : enquanto negros declaram , em média , patrimônio de R $ 233.000,00 , brancos registram R $ 1.000.000,00 , isso na mesma situação de escolaridade .
A questão que se apresenta é : esta sub-representação , oriunda da baixa inserção de negros na classe média , nos níveis superiores de escolaridade , e portanto , com menor inserção em partidos políticos , é que provoca esta menor representatividade política ? Desta forma , o país tem uma dívida histórica com os negros que para cá foram trazidos a ferros , por séculos permaneceram à margem de qualquer processo inclusivo na sociedade , em especial com relação à educação . Libertos , foram entregues à sorte para que desaparecessem , como se isso fosse possível , não sendo , favelizados para lá permanecerem esquecidos e invisíveis , o que também não é possível .
A educação pode ser a arma para reverter este processo . Através de um grande empenho educativo no país , que qualifique como mão de obra para um mundo cada vez mais tecnológico , mas também que prepare as crianças e jovens para serem capazes de por si mesmos buscarem conhecimento , podemos ter uma verdadeira ascensão à classe média , não somente como mercado consumidor ou produtivo , mas também com conteúdo cultural , acesso a universidades e situação financeira confortável que permita maior participação na vida política , seja partidária , em movimentos , em suas comunidades ou em mobilizações .
Por outro lado , este caminho é longo e só teremos resultados no longo prazo . Não dá pra esperar 20 / 30 anos para negros pode-
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