Em São Paulo, o Sarau do Binho está
em atividade desde 1990 e continua se
expandido por escolas e espaços culturais
P
roferindo sobre versos, o autor João Ca-
bral de Melo Neto, os definiu, como um
extremo mergulho em si. Já Pedro Bomba
ilustra-os metaforicamente, como alicate
torando a cerca, arame que fura farpado. Seja pela
definição de Melo Neto, da palavra que toca o mais
íntimo, ou por Bomba, da letra que fere; a poesia
sempre será a mais eficaz ferramenta de libertação do
homem.
A arte, sobretudo, se expressa por formas. Entre-
tanto, os espaços que essas formas percorrem, infeliz-
mente são delimitados, demarcadas como centrais, à
disposição de uma elite pseudo intelectual, majorita-
riamente branca e de poder aquisitivo, que reafirma a
todo instante valores que objetivam manter a arte ao
domínio elitista.
Nesse âmbito, os saraus possuem uma importante
função: a de proporcionar lugares de fala a grupos
historicamente marginalizados, de dar a possibi-
lidade de ouvir vozes que simplesmente não estão
presentes nosso cotidiano. Gritos de denúncias que
são abafados diariamente por nossos privilégios e que
são legitimadas por todas formas de exclusão, como
as já citadas. É essa diversidade, proporcionada pelos
saraus, que prova que essa concepção de arte que
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segrega é rasa e pouco representativa, nociva às outras
formas de expressão que fujam dessa (de)limitação.
Essas vozes e versos ocupam um espaço que de
direito são delas, embora socialmente sejam descri-
minados. O ato de ocupar uma praça e intervir sobre
esse espaço é de fato um posicionamento político e
de afirmação do entendimento do papel de cidadão
de exerce seu direito à cidade. Assim, ressignificando
lugares que por essência possuem essa função, mas
que na realidade são pensados por uma lógica que
No início do mês de junho, BH contou
com o "Circuito Metropolitano de Saraus"