ZINT Jun. 2017 | Page 76

Em São Paulo, o Sarau do Binho está em atividade desde 1990 e continua se expandido por escolas e espaços culturais P roferindo sobre versos, o autor João Ca- bral de Melo Neto, os definiu, como um extremo mergulho em si. Já Pedro Bomba ilustra-os metaforicamente, como alicate torando a cerca, arame que fura farpado. Seja pela definição de Melo Neto, da palavra que toca o mais íntimo, ou por Bomba, da letra que fere; a poesia sempre será a mais eficaz ferramenta de libertação do homem. A arte, sobretudo, se expressa por formas. Entre- tanto, os espaços que essas formas percorrem, infeliz- mente são delimitados, demarcadas como centrais, à disposição de uma elite pseudo intelectual, majorita- riamente branca e de poder aquisitivo, que reafirma a todo instante valores que objetivam manter a arte ao domínio elitista. Nesse âmbito, os saraus possuem uma importante função: a de proporcionar lugares de fala a grupos historicamente marginalizados, de dar a possibi- lidade de ouvir vozes que simplesmente não estão presentes nosso cotidiano. Gritos de denúncias que são abafados diariamente por nossos privilégios e que são legitimadas por todas formas de exclusão, como as já citadas. É essa diversidade, proporcionada pelos saraus, que prova que essa concepção de arte que 76 | zint.online/ segrega é rasa e pouco representativa, nociva às outras formas de expressão que fujam dessa (de)limitação. Essas vozes e versos ocupam um espaço que de direito são delas, embora socialmente sejam descri- minados. O ato de ocupar uma praça e intervir sobre esse espaço é de fato um posicionamento político e de afirmação do entendimento do papel de cidadão de exerce seu direito à cidade. Assim, ressignificando lugares que por essência possuem essa função, mas que na realidade são pensados por uma lógica que No início do mês de junho, BH contou com o "Circuito Metropolitano de Saraus"