ZINT Jun. 2017 | Page 63

Capa do álbum All Amerikkkan Bada$$ U m garoto de apenas 17 anos surgiu no cenário underground do rap americano em 2012. Com a mixtape independente 1999, ficou claro que Joey Bada$$ seria mais uma promessa nascida no Brooklyn, Estados Unidos. O bairro é um dos berços da cultura hip-hop, de onde surgiram grandes rappers como JAY-Z e Notorious BIG. Depois de mais duas mixtapes, o primeiro álbum de estúdio de Joey, intitulado B4.Da.$$, foi um sucesso. Só nos Estados Unidos, alcançou a marca de 54 mil cópias vendidas na primeira semana, estreando na quinta posição da Billboard 200, o maior chart de álbuns do mundo. O título do álbum faz um jogo de palavras com o “Badass” (Fod*o, em tradução livre) de seu nome artístico, tendo sua escrita estilizada para ser pronunciado como “Before the Money” (“Antes do Dinheiro”, em tradução literal). Em maio deste ano, em meio ao hype do novo álbum do rapper norte-americano Kendrick Lamar, Joey lançou seu segundo trabalho de estúdio: All-A- merikkkan Bada$$ . O título do álbum faz referência ao primeiro álbum solo do rapper Ice Cube e lenda do grupo NWA, AmeriKKKa’s Most Wanted. Ao ouvir as faixas presentes no trabalho torna-se evidente sua evolução como artista. Em maioria, as músicas vão contra a tendência trap presente no rap americano. Tal estilo de batida é diferente do boom bap, estilo clássico do rap originado do funk e do soul em forma de loop, ainda responsável pelos maiores clássicos da história do rap. Bada$$ explica em suas anotações no Genius , plataforma online que possibilita aos seus usuários postar e compartilhar anotações para as músicas, que os singles Devastated e Front and Center foram lança- das como iscas. Apesar de gostar delas, ele as lançou afim de chamar a atenção de um público maior: “Aquele não é meu estilo. Essas músicas são para aquelas pessoas que vocês tentam convencer a ouvir Joey Bada$$, mas que não conhecem o meu tipo”. O objetivo era que a mensagem das próximas faixas do álbum atingisse pessoas diferentes. O tema principal tratado no álbum é o racis- mo existente nos EUA. A ideia vem desde o single LAND OF THE FREE, lançado no Martin Luther King’s Day . Ainda, a participação de Joey no movimen- to Black Lives Matter mostra como ele se tornou um dos rappers mais politizados da sua geração. Na música, ele critica a conduta dos americanos e expõe a forma como deixaram os problemas do racismo de lado com a chegada de Barack Obama à presidência. Além disso, propõem reflexões como o fato de negros ainda terem sobrenomes dos donos de escravos. Nos versos da música, Joey canta “Obama não foi o suficiente, eu só preciso de algum outro fecha- mento, e Donald Trump não é equipado para governar esse país”. Joey mostra que tem consciência da sua visibilida- de midiática e de como isso lhe dá a possibilidade de expor o racismo. Essa atitude resgata a ideia do movi- mento sociocultural do hip-hop, que vem se perdendo com o passar do tempo, sendo mais reconhecido como um estilo musical. O álbum também traz a ideia de união na luta contra problemas sociais. Todas as faixas apresentam os títulos em caixa alta, uma tentativa de chamar atenção e que, de um ponto de vista artístico, pode ser entendido como um grito de alerta para essas questões. “Esta é para o meu povo, tentando permanecer vivo e em paz; é tão difícil sobreviver num mundo tão lental; quem vai dar um passo a frente e ser nosso salva- dor, para o meu povo, hein?” alerta o rapper em FOR MY PEOPLE. Em uma variedade de boom baps que lembram as produções dos anos 90, All-Amerikkkan Bada$$ ainda traz convidados como ScHoolboy Q e J. Cole, em um álbum que evidencia o amadurecimento do garoto que surgiu na cena em 2012. zint.online | 63