Capa do álbum
All Amerikkkan Bada$$
U
m garoto de apenas 17 anos surgiu no
cenário underground do rap americano
em 2012. Com a mixtape independente
1999, ficou claro que Joey Bada$$ seria
mais uma promessa nascida no Brooklyn, Estados
Unidos. O bairro é um dos berços da cultura hip-hop,
de onde surgiram grandes rappers como JAY-Z e
Notorious BIG.
Depois de mais duas mixtapes, o primeiro álbum
de estúdio de Joey, intitulado B4.Da.$$, foi um
sucesso. Só nos Estados Unidos, alcançou a marca de
54 mil cópias vendidas na primeira semana, estreando
na quinta posição da Billboard 200, o maior chart de
álbuns do mundo. O título do álbum faz um jogo de
palavras com o “Badass” (Fod*o, em tradução livre) de
seu nome artístico, tendo sua escrita estilizada para
ser pronunciado como “Before the Money” (“Antes do
Dinheiro”, em tradução literal).
Em maio deste ano, em meio ao hype do novo
álbum do rapper norte-americano Kendrick Lamar,
Joey lançou seu segundo trabalho de estúdio: All-A-
merikkkan Bada$$ . O título do álbum faz referência ao
primeiro álbum solo do rapper Ice Cube e lenda do
grupo NWA, AmeriKKKa’s Most Wanted.
Ao ouvir as faixas presentes no trabalho torna-se
evidente sua evolução como artista. Em maioria, as
músicas vão contra a tendência trap presente no rap
americano. Tal estilo de batida é diferente do boom
bap, estilo clássico do rap originado do funk e do soul
em forma de loop, ainda responsável pelos maiores
clássicos da história do rap.
Bada$$ explica em suas anotações no Genius ,
plataforma online que possibilita aos seus usuários
postar e compartilhar anotações para as músicas, que
os singles Devastated e Front and Center foram lança-
das como iscas. Apesar de gostar delas, ele as lançou
afim de chamar a atenção de um público maior:
“Aquele não é meu estilo. Essas músicas são para aquelas
pessoas que vocês tentam convencer a ouvir Joey Bada$$,
mas que não conhecem o meu tipo”. O objetivo era que
a mensagem das próximas faixas do álbum atingisse
pessoas diferentes.
O tema principal tratado no álbum é o racis-
mo existente nos EUA. A ideia vem desde o single
LAND OF THE FREE, lançado no Martin Luther
King’s Day . Ainda, a participação de Joey no movimen-
to Black Lives Matter mostra como ele se tornou um
dos rappers mais politizados da sua geração.
Na música, ele critica a conduta dos americanos
e expõe a forma como deixaram os problemas do
racismo de lado com a chegada de Barack Obama à
presidência. Além disso, propõem reflexões como o
fato de negros ainda terem sobrenomes dos donos de
escravos. Nos versos da música, Joey canta “Obama
não foi o suficiente, eu só preciso de algum outro fecha-
mento, e Donald Trump não é equipado para governar
esse país”.
Joey mostra que tem consciência da sua visibilida-
de midiática e de como isso lhe dá a possibilidade de
expor o racismo. Essa atitude resgata a ideia do movi-
mento sociocultural do hip-hop, que vem se perdendo
com o passar do tempo, sendo mais reconhecido
como um estilo musical.
O álbum também traz a ideia de união na luta
contra problemas sociais. Todas as faixas apresentam
os títulos em caixa alta, uma tentativa de chamar
atenção e que, de um ponto de vista artístico, pode
ser entendido como um grito de alerta para essas
questões. “Esta é para o meu povo, tentando permanecer
vivo e em paz; é tão difícil sobreviver num mundo tão
lental; quem vai dar um passo a frente e ser nosso salva-
dor, para o meu povo, hein?” alerta o rapper em FOR
MY PEOPLE.
Em uma variedade de boom baps que lembram
as produções dos anos 90, All-Amerikkkan Bada$$
ainda traz convidados como ScHoolboy Q e J. Cole,
em um álbum que evidencia o amadurecimento do
garoto que surgiu na cena em 2012.
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