10 ANOS DE
RATTATOUILLE:
”QUALQUER UM
PODE COZINHAR”
A
queles que gostam de cozinhar sabem a
força que as memórias de infância têm.
Como na famosa Madeleine proustiana
caída numa xícara de chá, provar um
sabor que nos remete à infância aviva imediatamen-
te as memórias estruturais, recriando a sensação de
aconchego, de um mundo perdido onde nos sentía-
mos protegidos e acalentados.
As memórias de infância nunca vêm com um pra-
to refinado e conceitual, é sempre a “confort food”, a
“comida de alma” ou a como quiserem chamar. A cena
que expressa o ápice suspense do ótimo filme Ratta-
touille (2007), quando o sisudo, temido e carrancudo
crítico de gastronomia se converte e se transforma ao
provar o prato de sua infância que dá título ao filme,
26 | zint.online/
A animação da
Pixar foi lançada
em junho de 2007,
aproveitando o
boom dos produtos
midiático sobre
culinária, além de
homenagear um
famoso chef francês
Renato Quintino
expressa esta verdade, atestando o acerto dos roteiris-
tas para retratar o universo de quem lida com comida.
A cena é memorável não só ao transportar o
crítico de imediato para os sabores da sua infância,
mas ao celebrar a dificuldade de se fazer um prato
simples. É sabido no meio da gastronomia que assar
corretamente um frango ou fazer um bom omele-
te é um teste para ser aceito em um restaurante. É
necessário muita coragem e domínio da cozinha para
fazer para um crítico de gastronomia uma rattatouile
perfeita, bem apresentada e no ponto certo.
Feito no começo do boom de filmes, programas
de TV, competições e rankings de revistas que colo-
caram a gastronomia no centro das atenções transfor-
mando Chefs em celebridades, o filme acerta muito