para conseguir o que quer.
Sophia passa longe da imagem da garota perfeita
de Hollywood, a famosa Manic Pixie Dream Girl,
termo adotado para descrever personagens femininas
misteriosas que surgem na trama para ajudar o prota-
gonista a resolver algo e, geralmente, são excêntricas
e “belas, recatadas e do lar”, mas com um ar de rebel-
dia. Em Girlboss, a personagem principal exprime
em suas ações vontade que toda garota, com suas
minirrevoluções diárias, já sonhou em fazer, como se
vestir do jeito que bem entender, fazer uma roadtrip
com sua melhor amiga, falar o que quiser sem se pre-
ocupar com as consequências e ter um namorado que
faz parte de uma banda – e não ser definida por isso.
Sophia consegue, com maestria e um pouco de
sorte, fundar seu próprio negócio e lidar com sua vida
pessoal – na medida do possível. Porém, para passar
por tudo isso, ela utiliza de meios que, muitas vezes,
não ajudam na construção da personagem.
Entre uma fala e outra, a arrogância de Sophia se
mostra um dos principais defeitos da personagem que,
sendo inspirada na vida real da mulher, não traz boas
esperanças para os discursos em prol de “eu não sou
mandona, eu que mando” (“I’m not bossy, I’m the boss”).
A série busca vender uma imagem perfeita da mulher
#girlpower, que não admite os obstáculos que encontra
em seu caminho e luta para ultrapassá-los, mas acabou
criando uma anti-heroína desonesta e egoísta, que não
agrada a todos e, principalmente, às mulheres.
Cada “não” que Sofia escuta, cada porta batida
em sua cara, serve de combustível para sua raiva
contra tudo e todos. Ao invés de superar as derrotas
e lutar a próxima luta, de maneira justa, a jovem
culpa os “nãos” e as portas por seus erros, faz birra
para conseguir o que quer e maltrata quem sempre
esteve ao seu lado – tudo por uma peça de roupa que
a faria ganhar mais dinheiro e popularidade em seu
perfil de vendas no eBay.
Os pontos positivos estão depositados na dire-
ção de arte, fotografia, trilha sonora e figurino. A
produção faz uma releitura dos anos 2000, com uma
pegada nos anos 1980, brinca com o colorido, batidas
marcantes, calças boca de sino e coletes de pelo. É
impossível não querer voltar no tempo e adquirir
um dos achados de Sophia, enquanto dança ao som
do último CD da banda Yeah Yeah Yeahs e tenta
destruir o patriarcado.
Mas fica difícil acreditar que, em pleno século
21, ainda temos que viver em mundo no qual uma
girlboss, popular, rica, sucedida, ou não, seja retratada
como uma menina fútil, egoísta e mesquinha.
zint.online | 11