ZINT Jun. 2017 | Page 11

para conseguir o que quer. Sophia passa longe da imagem da garota perfeita de Hollywood, a famosa Manic Pixie Dream Girl, termo adotado para descrever personagens femininas misteriosas que surgem na trama para ajudar o prota- gonista a resolver algo e, geralmente, são excêntricas e “belas, recatadas e do lar”, mas com um ar de rebel- dia. Em Girlboss, a personagem principal exprime em suas ações vontade que toda garota, com suas minirrevoluções diárias, já sonhou em fazer, como se vestir do jeito que bem entender, fazer uma roadtrip com sua melhor amiga, falar o que quiser sem se pre- ocupar com as consequências e ter um namorado que faz parte de uma banda – e não ser definida por isso. Sophia consegue, com maestria e um pouco de sorte, fundar seu próprio negócio e lidar com sua vida pessoal – na medida do possível. Porém, para passar por tudo isso, ela utiliza de meios que, muitas vezes, não ajudam na construção da personagem. Entre uma fala e outra, a arrogância de Sophia se mostra um dos principais defeitos da personagem que, sendo inspirada na vida real da mulher, não traz boas esperanças para os discursos em prol de “eu não sou mandona, eu que mando” (“I’m not bossy, I’m the boss”). A série busca vender uma imagem perfeita da mulher #girlpower, que não admite os obstáculos que encontra em seu caminho e luta para ultrapassá-los, mas acabou criando uma anti-heroína desonesta e egoísta, que não agrada a todos e, principalmente, às mulheres. Cada “não” que Sofia escuta, cada porta batida em sua cara, serve de combustível para sua raiva contra tudo e todos. Ao invés de superar as derrotas e lutar a próxima luta, de maneira justa, a jovem culpa os “nãos” e as portas por seus erros, faz birra para conseguir o que quer e maltrata quem sempre esteve ao seu lado – tudo por uma peça de roupa que a faria ganhar mais dinheiro e popularidade em seu perfil de vendas no eBay. Os pontos positivos estão depositados na dire- ção de arte, fotografia, trilha sonora e figurino. A produção faz uma releitura dos anos 2000, com uma pegada nos anos 1980, brinca com o colorido, batidas marcantes, calças boca de sino e coletes de pelo. É impossível não querer voltar no tempo e adquirir um dos achados de Sophia, enquanto dança ao som do último CD da banda Yeah Yeah Yeahs e tenta destruir o patriarcado. Mas fica difícil acreditar que, em pleno século 21, ainda temos que viver em mundo no qual uma girlboss, popular, rica, sucedida, ou não, seja retratada como uma menina fútil, egoísta e mesquinha. zint.online | 11