Wink Wink Mag #22 | Page 96

Perfil 4patas Por Karla Matida Foto Fábio Pitrez guia Depois de um treinamento de cerca de dois anos, a golden retriever Júlia se tornou o cão-guia de Gabriel Vicalvi. O Brasil, com 6,5 milhões de pessoas com baixa visão, tem apenas 80 animais aptos A golden retriever Júlia é ainda mais especial do que seus lindos e longos pelos dourados sugerem. Há cerca de um ano ela acompanha o analista de s istemas Gabriel Vicalvi pelas ruas de São Paulo. “Há um ano eu não sei mais o que é ter galo na cabeça”, lembra. Sempre bem-humorado, o analista de sistemas também transforma risadas em lágrimas quando compartilha suas histórias com a plateia formada por funcionários e diretores de uma fábrica de ração em Arapongas. Deficiente visual desde o nascimento, Vicalvi conta que sempre foi ousado. Não enxergar nunca foi motivo para ele ficar em casa. E os galos eram consequências de galhos de árvore e telefones públicos, obstáculos aéreos dos quais a atenta Júlia agora o faz desviar. “É nessas horas que a gente vê o quanto vale nosso investimento”, explica José Marcos Calsavara, da Brazilian Pet Foods, patrocinador do Instituto Cão-Guia Brasil há cerca de dois anos e meio. “Outros três cães serão entregues no ano que vem e já há outros em outras fases de treinamento”, explica Calsavara. Durante quase dois anos, a cachorra foi treinada no Instituto Cão-Guia Brasil, no Rio de Janeiro. A seleção dos animais acontece logo nos três primeiros meses de vida. Com as características necessárias para ser um guia, o cão vai para o treinamento, mas nem todos terminam o processo. “Cerca de 30% apenas”, contabiliza o treinador George Thomaz Harrison. O longo treinamento, as dificuldades de encontrar animais que sejam aptos e as questões financeiras são alguns empecilhos na empreitada. Hoje o Brasil, que tem 6,5 milhões de pessoas com baixa visão, conta com apenas 80 cães-guia. Enquanto isso, cerca de 12 mil pessoas esperam por um animal treinado como Júlia. Gabriel Vicalvi, estudante de análise de sistemas, passou quase cinco anos na lista de espera por um cão-guia. “Não é uma fila porque não é por ordem de chegada”, explica. Cachorro e dono em potencial precisam ser compatíveis. E após a seleção, a dupla e mais o treinador ficam um mês em adaptação. “É o tempo para tirar a carteira de motorista de cão-guia”, brinca Vicalvi. 98 WINK mag Com a ajuda de Júlia, Vicalvi veio sozinho de São Paulo para o Paraná. “Com a Júlia, nunca mais fiquei sozinho”, frisa. Por lei, o cão-guia vai na cabine com o dono e não na parte de cargas, como os outros animais. O Instituto Cão-Guia Brasil foi fundado em 2009, por Harrison. “Já trabalhava com treinamento de cachorros, mas depois de conhecer um cão-guia, me apaixonei”, lembra. Com Júlia, o treinador soma seis cães entregues. “No Brasil, contando com os outros institutos, são cinco cães por ano”, diz. De acordo com Harrison, o custo de um cão-guia varia entre 35 a 45 mil reais, que é bancado pelo instituto, já que o deficiente visual não paga nada. “Nos Estados Unidos, o custo fica entre 50 e 60 mil dólares, na Europa, uns 30 mil euros. Mas depende do tamanho dos institutos.” O carinho e atenção de Júlia, são as características mais fortes percebidas por Vicalvi. “Tenho muita confiança nela, afinal, entreguei minha vida a ela”, afirma o analista. Ah, sim, Júlia também está no Facebook (www. facebook.com/juliacaoguia).