Saúde Coronária - Dia do Doente Coronário | Page 6

A causa mais frequente de morte no homem, em países desenvolvidos, ou em vias de desenvolvimento, é a aterosclerose. A aterosclerose é uma doença crónica progressiva das artérias de grande dimensão (incluindo as artérias coronárias), que se caracteriza por um processo inflamatório crónico destas artérias e que surge em consequência, principalmente da elevação do colesterol no sangue, mas também de fenómenos genéticos, imunológicos, hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, obesidade, inflamações crónicas sistémicas, entre outras causas. Lino Gonçalves Cardiologista A aterosclerose pode afetar os vasos de todo o organismo, mas os que são mais notados, pelas suas consequências, são os do coração e os do cérebro. No coração, a aterosclerose pode provocar a angina de peito (dor no peito que surge com o esforço, que alivia com o repouso e que dura poucos minutos), ou os chamados síndromes coronários agudos, quando a aterosclerose se complica com a formação de trombos (coágulos), que podem levar nas suas formas mais graves ao enfarte agudo do miocárdio ou à morte súbita. No caso do enfarte, a dor no peito é habitualmente mais intensa, pode surgir em repouso, tem uma duração superior a 20 minutos e não desaparece espontaneamente. Pode estar associada à falta de ar, suores e à sensação de vómitos e tonturas. Mas porque é que surge a aterosclerose no homem? Desde há mais de um século que se sabe que animais, que habitualmente não apresentam aterosclerose, desenvolvem lesões ateroscleróticas quando alimentados com uma dieta rica em colesterol. Porque motivo o homem haveria de ter um comportamento diferente destes animais? Hoje em dia sabe-se que a variabilidade dos valores do colesterol no sangue em humanos se deve a um conjunto de múltiplos genes em interação com fatores ambientais. De facto, a aterosclerose em outros mamíferos, que não os humanos, é rara. Mesmo dentro da espécie humana, as populações que mantêm um estilo de vida e uma dieta semelhante aos tempos primitivos apresentam uma aterosclerose mínima. Durante a gravidez o feto humano, bem como os fetos de outros mamíferos, apresentam valores de colesterol total (CT) abaixo dos 50 mg/dL. Durante o período de amamentação, os valores aproximam-se dos 170 mg/dl nos humanos, e dos 150 mg/dl nos restantes mamíferos. Após este período de amamentação no humano, se a dieta for rica em colesterol os valores sanguíneos sobem para valores superiores a 200 mg/dl, mas se a dieta for pobre em gordura poderá permanecer abaixo dos 150 mg/dl. Na população ocidental o colesterol total (CT) apresenta uma média de 200 mg/dl. No entanto, estes valores não se podem considerar como normais, uma vez que cerca de 50% destas pessoas apresentam aterosclerose aos 50 anos de idade. Foi igualmente demonstrado que valores de co- Mas não será perigoso baixar assim tanto o colesterol? O colesterol é, de facto, uma molécula estrutural indispensável não apenas para o desenvolvimento normal do cérebro, mas também para a manutenção da estrutura celular normal. Desta forma, um nível mínimo de colesterol é necessário para manter a vida. Existirá com certeza um valor de colesterol que será demasiado baixo para uma vida saudável. Esse valor, no entanto, ainda não é conhecido. Sabe-se, por outro lado, que doentes portadores de uma anomalia genética (hipobetalipoproteinemia heterozigótica) que se associa a valores de colesterol “mau” (LDL) de cerca de 30 mg/dl, têm uma vida excecionalmente longa, aparentemente sem complicações. Em conclusão, em termos cardiovasculares, os valores de colesterol “mau” (LDL) entre os 30-70 mg/dl poderão ser os ideais para os humanos. A questão é como se pode atingir tais objetivos na sociedade atual em que vivemos? A resposta é: alimentação baixa em colesterol, exercício físico regular diário, controlo de outros fatores de risco (hipertensão, diabetes, tabagismo, obesidade) e terapêutica médica, caso seja necessária para atingir os alvos pretendidos. Mas depois de se atingir o objetivo, é muito importante manter os valores de colesterol sempre controlados através da manutenção das medidas que foram tomadas previamente. Podemos pois dizer que estamos atualmente a tomar consciência de que deveríamos todos nós, de facto, regressar às nossas origens e apresentar valores de colesterol semelhantes aos nossos antepassados primitivos! 6 se situam-se abaixo dos 57-67 mg/dl de colesterol “mau” (LDL). Recentemente um estudo clínico de grande dimensão demonstrou em doentes coronários que um colesterol “mau” (LDL) de 53 mg/dl, ainda se associa a uma redução de complicações cardiovasculares. Como se pode então reduzir os níveis de colesterol e através dessa redução diminuir as complicações cardiovasculares ateroscleróticas no homem, a um nível mínimo? Em primeiro lugar, é claro que o primeiro passo é uma dieta pobre em colesterol. No entanto, uma das principais limitações desta estratégia é a baixa adesão a esta intervenção por parte da população. Para além disso, existem outros fatores de risco que também promovem o desenvolvimento de aterosclerose (diabetes, tabagismo, hipertensão) e que precisam de ser controlados em simultâneo, sob pena de não se conseguir reduzir a aterosclerose. Nos casos em que uma alimentação saudável e o exercício físico regular não conseguirem atingir os valores-alvo, deverá iniciar-se a terapêutica com medicamentos (estatinas) nas dosagens adequadas à situação clínica do doente, recorrendo à associação com outros fármacos que reduzem a absorção do colesterol sempre que necessário para se atingirem os referidos valores-alvo. O COLESTEROL LDL NÃO DÁ SINTOMAS. POR ISSO, CUMPRA OS LIMITES. 7 com apoio de: Precisaremos nós de regressar às nossas origens? « As populações que mantêm um estilo de vida e uma dieta semelhante aos tempos primitivos apresentam uma aterosclerose mínima» um conselho da: Colesterol: Valor Ideal lesterol “mau“ (LDL) entre 90-130 mg/dl, podem associar-se a aterosclerose. É, pois, compreensível que a aterosclerose seja endémica na nossa população com cultura ocidenta