Samba Acadêmico Brasil Edição 09 ANO I Dezembro 2016 | Page 25

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FORA DA REALIDADE

O samba, prossegue a “Carta”, caracteriza-se pelo constante emprego da sincopa e preservar suas características tradicionais significa valorizar a sincopa. Recorde-se, entretanto, que o emprego constante da sincopa, pouco provável também que seja legado do negro de Angola, não é apenas característica do samba. Nós encontramos no cateretê, no cururu, na própria dança de Santa Cruz e em outras expressões folclóricas brasileiras e curiosamente não a observamos no batuque e no Jongo afro-paulistas considerados n a “Carta” formas tradicionais daquilo que chamamos samba. Também, não acreditamos que a preservação do samba popularesco carioca possa se objetivar através da valorização da sincopa, porque na verdade o samba mais do que um elemento rítmico é uma organização polirritimico, melódica, poética, instrumental e vocal.

A “Carta”, porém, depois de sugerir a preservação do samba, chega a admitir a alteração desta regra, para que este possa se aproximar do samba canção, samba choro ou samba bolero. E por que? Especialmente, pelo fato de que na opinião de seus inspiradores o samba não se sedimentou na forma nacional, sedimentação que deve estar somente nas suas visões fora da realidade cultural da música brasileira.

Nesta aproximação, no entanto, o compositor e interprete devem ter cautela, pois a mesma não pode ser considerada senão uma experimentação. Ela não deve se transformar, pela repetição e abundância da produção, num substituto do samba. Do contrário, dia a “Carta” teríamos uma desnacionalização e descaraterização do samba. Não entendemos porque admitir esta aproximação, para considera-la apenas uma experimentação, e perguntamos: com que objetivo ou finalidade? Se tememos a transformação no substituto do samba, seria melhor, apesar de inconexão, que a “Carta” fosse contra a aproximação. Em contrapartida, nada há que temer quanto à desnacionalização de algo que ainda, segundo a própria “Carta”, não se sedimentou na forma nacional.

BRASIL NÃO É APENAS SAMBA

Pode-se estilizar e adaptar outros gêneros musicais do país, mas não o samba porque se precisa resguardar a autenticidade dele. Esta é a ideia do item “c” da “Carta do Samba”, antipática e isolacionista, além de incoerente, porque não é possível que se pretenda a defesa do autêntico proibindo sua estilização ou adaptação. E, em nossa opinião precisa se acabar com essa mania de julgar que Brasil é apenas samba e samba carioca popularesco, e que este é um dos traços culturais que mais nos distinguem como nacionalidade, como assevera a “Carta”.

A respeito desses traços, no setor musical, pouco sabemos ainda por falta de maiores pesquisas dos músicos, dos especialistas em etnomusícologia. Entretanto, no Estado de São Paulo, podemos informar aos interessados que o traço cultural da nacionalidade não é o samba, mas antes a moda de viola e o cateretê a parece que em Recife é o frevo. Do que precisamos é de pesquisas sérias e de pareceres de estudiosos do fenômeno musical brasileiro, não de congressos e cartas de samba que não resolvem nada.

Revista Samba Acadêmico Dexembro 2016 25 25