era nem é a de verdadeiro partido. Era e é uma colagem. Foi eficaz
durante o curto tempo do primeiro mandato de Luiz Inácio, antes
do desastre do mensalão, abrindo brecha num sistema político
impermeável aos novos sujeitos e dominado por agrupamentos de
interesse e de famílias radicados em nosso provincianismo. Ou nas
corporações econômicas, como a dos proprietários de terra.
Hoje a proporção de fazendeiros na composição do Congresso
Nacional é superior à da sua proporção no conjunto da população
brasileira. Extensas parcelas do povo sequer estão representadas
no Legislativo e no governo.
Como se vê também na multiplicação de agentes religiosos na
representação política, os atributos identitários de segundo plano,
extrapolíticos, como os confessionais, emergiram no primeiro
plano da ação política para ocupar o vazio e o esvaziamento do
Estado e o derretimento da política.
Não é estranho, pois, que em face dos impasses do momento
atual, de supressão dessa mediação precária, o governo não tenha
conseguido, prontamente, identificar os interlocutores do protesto
e estabelecer com eles uma pauta de negociação que superasse a
crise. Deixou que o bloqueio se arrastasse, se multiplicasse e,
mesmo, se deixasse manipular por interesses e vontades invisí-
veis, em poucas horas tornando complicado o entendimento.
A tentativa tardia de negociar revelou que se sentaram à mesa
da negociação pessoas que pouco ou nada representam, os autô-
nomos do setor de transportes. Eles não falam em nome das forças
ocultas que parecem manipular o movimento e suas demandas. O
que parecia uma greve ganhou forma de locaute de supostos
grupos poderosos, que usurparam a causa dos autônomos. Ficou
problemático negociar com as forças ocultas do protesto.
A maior revelação do episódio é a do espontaneísmo dos
descontentes que viabilizou o protagonismo explícito dos autôno-
mos, mas também um enigmático protagonismo oculto. Pode-se
ver que na disseminação do espontaneísmo político no Brasil a
política agoniza, sacrificada tanto pelos próprios políticos quanto
pelo povo partidarizado e sectarizado, mas despolitizado.
Nas manifestações destes dias, o apelo explícito à intervenção
militar no governo mostra que a militância tosca e ingênua
concebe a política como instrumento do retrocesso ao passado, e
não como progresso e superação de problemas e de atrasos.
O caminhonaço
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