Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 77

conhecidos como “levantes tenentistas”, dada a forte participação da suboficialidade do Exército neles. Em paralelo a essas agitações, sobretudo após a I Guerra Mundial (1914-18), cresce o movimento interno profissionalizante, impulsionado quer por jovens oficiais formados em intercâmbio na Alemanha (“jovens turcos”), quer por oficiais antitenentistas que propugnavam a unidade do Exército e seu engajamento insti- tucional, através do Estado-Maior, somente em caso de grave ameaça à ordem interna. Nessa perspectiva se enquadrariam a intervenção de 1930, em meio às denúncias de fraude eleitoral; o golpe varguista de 1937, depois da fracassada revolta militar comunista de 1935; a derrubada de Vargas, em 1945, para garan- tir a redemocratização do país; entre outros episódios cujo ápice (destoante) seria o contragolpe de 1964, quando o poder só seria devolvido aos civis, vinte anos depois. É sob esta moldura que devemos entender o posicionamento público do general Villas-Bôas, liderança militar de perfil liberal, moldada pela perspectiva institucional-profissionalizante da Escola Superior de Guerra – que fundiu segurança com desenvol- vimento econômico –, para quem “o Brasil (…) tem um sistema de pesos e contrapesos que dispensa a sociedade de ser tutelada”, mas que, ao mesmo tempo, sabe dos efeitos disruptivos de suas fraquezas institucionais sobre a sociedade e, particularmente, sobre a tropa, num momento em que as ameaças explícitas dos populistas de esquerda em prol da “guerra de classes” encontram como antípoda Jair Bolsonaro e sua pregação intervencionista, com repercussões internas no próprio Alto Comando do Exército – vide general Hamilton Mourão. Neste contexto, tudo que um Chefe do Exército não pode fazer é se fingir de morto em “seu quadrado normativo”, sob pena de ver crescer, com o beneplácito dos comandantes de batalhão, a volta do fantasma do engajamento de base dos militares na política. A questão militar 75