pelo eleitor, na medida em que o seu voto, muitas vezes, é direcio-
nado para representantes que não foram por ele escolhidos.
Ademais, o leque partidário, que abarca quase 40 partidos, em
nada contribui para a instalação da governabilidade. Qualquer
maioria parlamentar demanda pelo menos uma meia dúzia de
partidos, agudizado pelo fato de que estes partidos não têm
consistência ideológica, não têm raízes históricas e muitas vezes
não são mais do que legendas de ocasião, para alguns, simples
instrumentos de ganho monetário. As poucas mudanças introdu-
zidas no pleito de 2018 apenas agravaram estes traços na medida
em que a criação do fundo eleitoral e o encurtamento do período
de campanha eleitoral apenas favorecem a persistência do mesmo
tipo de representação política, com poucas chances de renovação.
Por outro lado, a Operação Lava-Jato revelou um esquema de
corrupção profunda no âmbito do Estado, atingindo todos os
grandes partidos (MDB, PT, PP e PSDB), correndo mais ainda,
junto ao eleitorado, a descrença na classe política.
A coalizão presidencialista também contribui para o desgaste
democrático na medida em que aprisiona o Executivo ao jogo de
forças dispersas e fisiológicas do Parlamento. Com isso, um e
outro Poder Constitucional perdem legitimidade junto à popula-
ção. No caso do Executivo, acrescido do fato de que a burocracia,
o desperdício e o despreparo da gestão pública não conseguem
ofertar serviços minimamente decentes à população, particular-
mente no tocante à educação, à saúde e segurança pública. Mas,
as atitudes do Poder Judiciário, particularmente do STF, agindo
de forma errática, apresentando espetáculos dantescos, não
deixam de contribuir igualmente para o enfraquecimento das
instituições democráticas.
O agravante mais recente, porém, reside na polarização polí-
tica exacerbada que se criou no país nos últimos anos.
Aqui se desenha algo novo. Se antes os candidatos dos extre-
mos, conservadores e progressistas, caminhavam para o centro
em busca de votos que lhes permitissem a vitória, agora os extre-
mos atraem mais atenção e intenção de voto. São os extremos,
hoje, mais interessantes eleitoralmente. Desta forma, as radicali-
zações se retroalimentam, criando um círculo vicioso e perigoso
para o regime democrático, que é o regime do diálogo, do império
da lei e da alternância de poderes. A disputa democrática é um
jogo, em que é preciso vencer o adversário, mas não destruí-lo. Os
instrumentos de luta são o discurso, a proposta, a crítica, e nunca
Declínio democrático e polarização política
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