Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 45

pelo eleitor, na medida em que o seu voto, muitas vezes, é direcio- nado para representantes que não foram por ele escolhidos. Ademais, o leque partidário, que abarca quase 40 partidos, em nada contribui para a instalação da governabilidade. Qualquer maioria parlamentar demanda pelo menos uma meia dúzia de partidos, agudizado pelo fato de que estes partidos não têm consistência ideológica, não têm raízes históricas e muitas vezes não são mais do que legendas de ocasião, para alguns, simples instrumentos de ganho monetário. As poucas mudanças introdu- zidas no pleito de 2018 apenas agravaram estes traços na medida em que a criação do fundo eleitoral e o encurtamento do período de campanha eleitoral apenas favorecem a persistência do mesmo tipo de representação política, com poucas chances de renovação. Por outro lado, a Operação Lava-Jato revelou um esquema de corrupção profunda no âmbito do Estado, atingindo todos os grandes partidos (MDB, PT, PP e PSDB), correndo mais ainda, junto ao eleitorado, a descrença na classe política. A coalizão presidencialista também contribui para o desgaste democrático na medida em que aprisiona o Executivo ao jogo de forças dispersas e fisiológicas do Parlamento. Com isso, um e outro Poder Constitucional perdem legitimidade junto à popula- ção. No caso do Executivo, acrescido do fato de que a burocracia, o desperdício e o despreparo da gestão pública não conseguem ofertar serviços minimamente decentes à população, particular- mente no tocante à educação, à saúde e segurança pública. Mas, as atitudes do Poder Judiciário, particularmente do STF, agindo de forma errática, apresentando espetáculos dantescos, não deixam de contribuir igualmente para o enfraquecimento das instituições democráticas. O agravante mais recente, porém, reside na polarização polí- tica exacerbada que se criou no país nos últimos anos. Aqui se desenha algo novo. Se antes os candidatos dos extre- mos, conservadores e progressistas, caminhavam para o centro em busca de votos que lhes permitissem a vitória, agora os extre- mos atraem mais atenção e intenção de voto. São os extremos, hoje, mais interessantes eleitoralmente. Desta forma, as radicali- zações se retroalimentam, criando um círculo vicioso e perigoso para o regime democrático, que é o regime do diálogo, do império da lei e da alternância de poderes. A disputa democrática é um jogo, em que é preciso vencer o adversário, mas não destruí-lo. Os instrumentos de luta são o discurso, a proposta, a crítica, e nunca Declínio democrático e polarização política 43