Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 44

inúteis, como diz Martin Ford, e nós previmos em 1994 (Caderno CRH, nº 21). Elas alimentam o surgimento e crescimento de forças políticas populistas, sejam de que naipe político seja. A velocidade das mudanças tecnológicas e os impactos da inteligência artificial, associados aos efeitos diferenciados da globalização, estariam por trás da vitória de Trump e da ascensão das formas autoritárias na Europa, para alguns analistas. E estas mudanças criam tensões em toda parte, inclusive nos países latino americanos. Por isso, na América Latina há movi- mentos semelhantes, com o cresc imento do desgaste da política, dos partidos políticos, da corrupção e da insegurança pública. No caso do Brasil, as razões do declínio democrático estão asso- ciadas a conjunto de fenômenos marcantes. Alguns estruturais, mas que encontram condições favoráveis na atual conjuntura. Do ponto de vista estrutural, os fenômenos que, aparentemente, mais contribuem para o declínio democrático são dois. O primeiro é a enorme desigualdade que marca indelevelmente nossa socie- dade. A sociedade moderna é caracterizada pela tensão entre o espaço da igualdade (jurídica-política) e o da desigualdade (na esfera da economia). Quando a desigualdade assume feições avas- saladoras, como aqui, interfere na constituição do espaço da igual- dade, onde se sustentam os princípios da democracia, que supõe igualdade entre os indivíduos. O segundo, tão antigo quanto o primeiro, é a corrupção que marca as relações entre o setor público e o privado. A República assenta-se no reconhecimento de dois espaços distintos, o público e o privado, cada qual com sua dinâ- mica própria. A malversação dos recursos públicos borra as fron- teiras e impede que os interesses gerais sejam defendidos pelo Estado, agora prisioneiro de interesses públicos. No caso do Brasil, prisioneiro da corporação do capital, sobretudo financeiro, e das corporações internas, os altos segmentos dos servidores públicos. Em situação de crise econômica e de instabilidade política, a corrupção ganha evidência e mina a legitimidade das instituições públicas. Assim, o Parlamento encontra-se questionado, sobre- tudo que o princípio da representação não parece condizer com a expectativa dos eleitores. O sistema eleitoral distorce o voto dos eleitores de múltiplas formas, não apenas porque o princípio do voto majoritário não é obedecido, alguns Estados sendo mais bem representados do que outros, como também porque a coligação conduz a que o resultado eleitoral seja distinto daquele expresso 42 Elimar Pinheiro do Nascimento