inúteis, como diz Martin Ford, e nós previmos em 1994 (Caderno
CRH, nº 21). Elas alimentam o surgimento e crescimento de forças
políticas populistas, sejam de que naipe político seja.
A velocidade das mudanças tecnológicas e os impactos da
inteligência artificial, associados aos efeitos diferenciados da
globalização, estariam por trás da vitória de Trump e da ascensão
das formas autoritárias na Europa, para alguns analistas.
E estas mudanças criam tensões em toda parte, inclusive nos
países latino americanos. Por isso, na América Latina há movi-
mentos semelhantes, com o cresc imento do desgaste da política,
dos partidos políticos, da corrupção e da insegurança pública.
No caso do Brasil, as razões do declínio democrático estão asso-
ciadas a conjunto de fenômenos marcantes. Alguns estruturais,
mas que encontram condições favoráveis na atual conjuntura.
Do ponto de vista estrutural, os fenômenos que, aparentemente,
mais contribuem para o declínio democrático são dois. O primeiro
é a enorme desigualdade que marca indelevelmente nossa socie-
dade. A sociedade moderna é caracterizada pela tensão entre o
espaço da igualdade (jurídica-política) e o da desigualdade (na
esfera da economia). Quando a desigualdade assume feições avas-
saladoras, como aqui, interfere na constituição do espaço da igual-
dade, onde se sustentam os princípios da democracia, que supõe
igualdade entre os indivíduos. O segundo, tão antigo quanto o
primeiro, é a corrupção que marca as relações entre o setor público
e o privado. A República assenta-se no reconhecimento de dois
espaços distintos, o público e o privado, cada qual com sua dinâ-
mica própria. A malversação dos recursos públicos borra as fron-
teiras e impede que os interesses gerais sejam defendidos pelo
Estado, agora prisioneiro de interesses públicos. No caso do Brasil,
prisioneiro da corporação do capital, sobretudo financeiro, e das
corporações internas, os altos segmentos dos servidores públicos.
Em situação de crise econômica e de instabilidade política, a
corrupção ganha evidência e mina a legitimidade das instituições
públicas. Assim, o Parlamento encontra-se questionado, sobre-
tudo que o princípio da representação não parece condizer com a
expectativa dos eleitores. O sistema eleitoral distorce o voto dos
eleitores de múltiplas formas, não apenas porque o princípio do
voto majoritário não é obedecido, alguns Estados sendo mais bem
representados do que outros, como também porque a coligação
conduz a que o resultado eleitoral seja distinto daquele expresso
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Elimar Pinheiro do Nascimento