Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 43

por ter alimentado a descrença nos mecanismos políticos que deixaram não apenas a crise eclodir como, ao lidar com ela, permaneceram protegendo banqueiros e grupos financeiros responsáveis por ela. Acontecimentos ocorridos entre 2017 e 2018 confirmam o movimento de descenso democrático iniciado em 2011. E o maior destaque são os Estados Unidos que, com Trump, deixou de ser uma democracia plena. Entre nós, a Venezuela caminhou de um regime híbrido para autoritário. A democracia, no plano mundial, estaria em risco? Aparente- mente, sim. Não apenas pela apatia política que, em alguns países, atingem mais de um terço de abstenção eleitoral, velha conhecida dos cientistas políticos; não apenas pela ascensão de forças políticas autoritárias na Europa (França, Alemanha, Itália, Holanda, Hungria, Áustria) e nos Estados Unidos (Trump). Apatia política e ascensão de forças políticas autoritárias refletem perda de dinâmica econômica e de resolutividade estatal nos países desenvolvidos e em desenvolvimento no Ocidente. Desempenho contrastante com o dos países asiáticos, pouco democráticos ou mesmo autoritários, como a China. Aliás, este país interpela forte- mente os insucessos que os regimes democráticos têm colecio- nado no pífio desempenho econômico e pouca geração de emprego, mas também no aumento da insegurança pública, da corrupção e do desgaste da política e dos políticos. A cada dia, cresce o número de pessoas que se perguntam, de que vale a democracia se países não democráticos tem melhor desempenho econômico, menores índices de desemprego, mais segurança pública, com redução de forma permanente dos bolsões de pobreza e melhoria constante da qualidade de vida de seus povos? O resultado dessas interrogações é o crescimento de elei- tores votando em partidos e políticos conservadores, e mesmo autoritários, nos países desenvolvidos que prometem eficiência em troca de liberdade. Por trás desses fenômenos não estão ausen- tes os impactos das fortes mudanças tecnológicas associadas e alimentadas pelo processo crescente de globalização da econo- mia, desenvolvimento da automação e robotização da produção, com novas pesquisas em inteligência artificial (IA), e criação de máquinas que aprendem e substituem não apenas trabalhos repetitivos, questões todas abordadas nos seminários da Funda- ção Astrojildo Pereira deste ano. Fala-se, cada vez mais, que estas mudanças tecnológicas estão criando, aos poucos, uma classe de Declínio democrático e polarização política 41