por ter alimentado a descrença nos mecanismos políticos que
deixaram não apenas a crise eclodir como, ao lidar com ela,
permaneceram protegendo banqueiros e grupos financeiros
responsáveis por ela.
Acontecimentos ocorridos entre 2017 e 2018 confirmam o
movimento de descenso democrático iniciado em 2011. E o maior
destaque são os Estados Unidos que, com Trump, deixou de ser
uma democracia plena. Entre nós, a Venezuela caminhou de um
regime híbrido para autoritário.
A democracia, no plano mundial, estaria em risco? Aparente-
mente, sim. Não apenas pela apatia política que, em alguns
países, atingem mais de um terço de abstenção eleitoral, velha
conhecida dos cientistas políticos; não apenas pela ascensão de
forças políticas autoritárias na Europa (França, Alemanha, Itália,
Holanda, Hungria, Áustria) e nos Estados Unidos (Trump). Apatia
política e ascensão de forças políticas autoritárias refletem perda
de dinâmica econômica e de resolutividade estatal nos países
desenvolvidos e em desenvolvimento no Ocidente. Desempenho
contrastante com o dos países asiáticos, pouco democráticos ou
mesmo autoritários, como a China. Aliás, este país interpela forte-
mente os insucessos que os regimes democráticos têm colecio-
nado no pífio desempenho econômico e pouca geração de emprego,
mas também no aumento da insegurança pública, da corrupção e
do desgaste da política e dos políticos.
A cada dia, cresce o número de pessoas que se perguntam, de
que vale a democracia se países não democráticos tem melhor
desempenho econômico, menores índices de desemprego, mais
segurança pública, com redução de forma permanente dos bolsões
de pobreza e melhoria constante da qualidade de vida de seus
povos? O resultado dessas interrogações é o crescimento de elei-
tores votando em partidos e políticos conservadores, e mesmo
autoritários, nos países desenvolvidos que prometem eficiência
em troca de liberdade. Por trás desses fenômenos não estão ausen-
tes os impactos das fortes mudanças tecnológicas associadas e
alimentadas pelo processo crescente de globalização da econo-
mia, desenvolvimento da automação e robotização da produção,
com novas pesquisas em inteligência artificial (IA), e criação de
máquinas que aprendem e substituem não apenas trabalhos
repetitivos, questões todas abordadas nos seminários da Funda-
ção Astrojildo Pereira deste ano. Fala-se, cada vez mais, que estas
mudanças tecnológicas estão criando, aos poucos, uma classe de
Declínio democrático e polarização política
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