Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 38

Dois anos atrás, este dinheiro sairia da educação e da saúde sem a percepção de sacrifício, porque a perda não era em quanti- dade de dinheiro, mas na quantidade de mercadoria comprada; e era diluído pela inflação. É como se um único tijolo fosse diluído para fazer dois tijolos com massa fragilizada, deixando as duas paredes instáveis. É mais procedente adiar a construção da segunda parede. O milagre da multiplicação dos tijolos serve para representar o que acontece quando o governo usa inflação para desvalorizar a moeda e gastar mais do que arrecada. A corrupção nas prioridades era escondida na corrupção da moeda, provo- cando a corrupção do acomodamento político. Agora é possível eliminar a corrupção da moeda, apesar da grande resistência no imaginário da população, sobretudo pela manipulação e pelo uso de fake news, ao divulgar que a PEC do Teto congela cada gasto, quando, na verdade, limita o conjunto dos gastos ao nível da arrecadação, permitindo que uma despesa seja ampliada, desde que fazendo a redução de outra despesa. Graças às dificuldades vividas com a greve dos caminhonei- ros, constatamos o custo da indústria automobilística para o setor social e descobrimos uma segunda lição: que é preciso quebrar o acomodamento político e sair da área de conforto da simples reivindicação para o esforço da luta por mais recursos, para educação e saúde, dizendo onde o Estado brasileiro precisa redu- zir gastos com seus desperdícios históricos, beneficiando a elite, inclusive na indústria automobilística. Para cobrir os R$ 9,8 bilhões necessários para subsidiar o diesel neste ano, o governo está retirando R$ 55 milhões do orçamento da educação. Basta- ria, portanto, pequena mobilização da sociedade para que este recurso fosse retirado de outro setor. Para se ter uma ideia de grandeza, basta observar que o Congresso Nacional custará quase R$ 10 bilhões, este ano. A democracia não seria sacrificada com a redução de 0,6% de seus gastos. Temos a chance de lutar para que o financiamento do subsídio ao diesel não saia do sangue da saúde, nem dos neurônios do conhecimento. Para isso, será preciso lutar para retirar os recursos de outras áreas do setor público. Esta é a segunda lição derivada da absurda greve dos caminhoneiros: para respeitar a aritmética, temos que escolher entre construir e manter escolas ou queimar o recurso no transporte com diesel subsidiado. 36 Cristovam Buarque