Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 37

Aprendendo com as tragédias Cristovam Buarque C hama-se “pedagogia da catástrofe” o processo de aprender com as tragédias que ocorrem ao redor, embora muitas vezes não se aprenda e as tragédias se sucedam. O mês de maio de 2018 teve dias catastróficos para o funcionamento do país, para o dia a dia de cada brasileiro, e até para a confiança que depositamos no futuro: uma catástrofe que, além dos senti- mentos trágicos, pode nos dar algumas lições. A primeira delas é que, todos os anos, há décadas, o Brasil tira dinheiro da educação, da saúde e do saneamento para finan- ciar a indústria automobilística, sem que o povo brasileiro perceba. A greve dos caminhoneiros, associada à PEC do Teto – que também é pedagógica –, permite mostrar que, para sair da crise, para barrar a catástrofe, vai ser preciso tirar dinheiro do orçamento. Para vender carros, era preciso subsidiar juros, dar isenções fiscais, incentivar venda de caminhões sem a necessá- ria demanda por frete, endividar o Estado e os cidadãos. Para fazer as rodovias, usava-se cimento que saía da moradia do povo, porque ninguém pode usar uma mesma saca de cimento simul- taneamente em duas obras, um tijolo em duas paredes. Da mesma maneira que uma só moeda não pode comprar dois produtos simultaneamente. Apesar disso, iludidos, porque a inflação enganava a todos, assistimos a prioridade dada à indús- tria automobilística, sacrificando recursos que poderiam ser usados em setores sociais. 35