pressionam as instituições representativas e na presença de uma
interação factual (material) entre o tema da intervenção e a ocor-
rência de um atentado criminoso prenhe de implicações políticas,
bandeiras unitárias até aqui não alcançam prioridade indisputá-
vel. No mínimo dividem-na com a demarcação de territórios iden-
titários de atores sociais e seus movimentos. Vários deles tendem
a se colocar no mesmo óbvio “lugar de fala”, no qual se colocam
em situações normais. Sem dúvida, é preciso moderação também
ao se cobrar deles que atentem ao interesse público que os inclui,
mas os transcende. É compreensível que, tendo sido Marielle
Franco quem foi, movimentos negros e feministas tenham mais
dificuldade do que outros para enxergar o conjunto da floresta.
Afinal, matou-se, brutalmente, uma de suas árvores mais frutífe-
ras. Mas justamente por isso o conjunto da sociedade civil, ao
tempo em que expressa solidariedade ativa ao luto pela árvore
subtraída, precisa cuidar da preservação da floresta, um replan-
tio que requer democracia política. A busca de afirmação social
na contramão da representação política conduz a que se esvaia,
no âmbito da sociedade civil, a capacidade criativa da participa-
ção para enfrentar problemas materiais de uma sociedade mais
ampla e plural do que seus braços organizados; mais variada do
que admitem discursos de suas organizações e movimentos. De
modo diverso é possível dizer que a democracia brasileira avança
à medida em que vai se tornando valor comum aos vários andares
do seu edifício desigual.
Na sociedade política, as coisas vão se passando tal e qual. Face
a este crime, atua com ambivalência análoga à da sociedade civil.
Para comentar sua reação, escolho começar pelas más notícias.
Cada partido, grupo ou liderança, a depender do lugar que
ocupe no contencioso político, tende até aqui ao silêncio ou a
seguir seu script anterior ao drama específico em curso, sem
flexioná-lo, ainda que temporariamente, para fomentar um
ambiente mais sereno e favorável à elucidação do crime e à puni-
ção dos responsáveis. Nos polos extremos deste contencioso afir-
ma-se a urgência disso e se a cobra das autoridades policiais e do
governo ao qual elas respondem. Mas sem lugar para tréguas,
muito menos armistícios, as balizas dentro das quais considera-
rão satisfatório o desfecho da apuração e da punição estão desde
já rigidamente fincadas no terreno da batalha eleitoral imediata.
Assim, parte da oposição de esquerda – onde se situa o partido
da vítima – converte a indignação e a perda, compartilhadas pela
Segurança pública e política: sem Marielle, mas com franqueza
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