Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 27

pressionam as instituições representativas e na presença de uma interação factual (material) entre o tema da intervenção e a ocor- rência de um atentado criminoso prenhe de implicações políticas, bandeiras unitárias até aqui não alcançam prioridade indisputá- vel. No mínimo dividem-na com a demarcação de territórios iden- titários de atores sociais e seus movimentos. Vários deles tendem a se colocar no mesmo óbvio “lugar de fala”, no qual se colocam em situações normais. Sem dúvida, é preciso moderação também ao se cobrar deles que atentem ao interesse público que os inclui, mas os transcende. É compreensível que, tendo sido Marielle Franco quem foi, movimentos negros e feministas tenham mais dificuldade do que outros para enxergar o conjunto da floresta. Afinal, matou-se, brutalmente, uma de suas árvores mais frutífe- ras. Mas justamente por isso o conjunto da sociedade civil, ao tempo em que expressa solidariedade ativa ao luto pela árvore subtraída, precisa cuidar da preservação da floresta, um replan- tio que requer democracia política. A busca de afirmação social na contramão da representação política conduz a que se esvaia, no âmbito da sociedade civil, a capacidade criativa da participa- ção para enfrentar problemas materiais de uma sociedade mais ampla e plural do que seus braços organizados; mais variada do que admitem discursos de suas organizações e movimentos. De modo diverso é possível dizer que a democracia brasileira avança à medida em que vai se tornando valor comum aos vários andares do seu edifício desigual. Na sociedade política, as coisas vão se passando tal e qual. Face a este crime, atua com ambivalência análoga à da sociedade civil. Para comentar sua reação, escolho começar pelas más notícias. Cada partido, grupo ou liderança, a depender do lugar que ocupe no contencioso político, tende até aqui ao silêncio ou a seguir seu script anterior ao drama específico em curso, sem flexioná-lo, ainda que temporariamente, para fomentar um ambiente mais sereno e favorável à elucidação do crime e à puni- ção dos responsáveis. Nos polos extremos deste contencioso afir- ma-se a urgência disso e se a cobra das autoridades policiais e do governo ao qual elas respondem. Mas sem lugar para tréguas, muito menos armistícios, as balizas dentro das quais considera- rão satisfatório o desfecho da apuração e da punição estão desde já rigidamente fincadas no terreno da batalha eleitoral imediata. Assim, parte da oposição de esquerda – onde se situa o partido da vítima – converte a indignação e a perda, compartilhadas pela Segurança pública e política: sem Marielle, mas com franqueza 25